Padre Antônio Vieira
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Padre Antônio Vieira ou António Vieira (Antonio Vieyra, na grafia original) (Lisboa, 6 de Fevereiro de 1608 — Salvador, 18 de Julho de 1697), missionário, orador sacro e escritor português.
- "O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive."
- - Sermões - Volume 10 - Página 61, António Vieira - Lello & Irmão, 1951
- - Sermões - Volume 6 - Página 54, António Vieira · Editores J. M. C. Seabra&T. Q. Antunes, 1855
- "Sem Angola, não há negros e sem negros não há Pernambuco."
- - Sobre a necessidade de retomar os entrepostos portugueses de escravos na África, naquele momento sob controle holandês.
- - Carta do Pe. Antônio Vieira ao marquês de Niza, 12 de agosto de 1648, citada por Silva, Leonardo Dantas, "Alguns documentos para história da escravidão", Fundaj, Editora Massangana, Recife, 1988, p. 8; citado em "Família, mulher, sexualidade e Igreja na história do Brasil: ; Por Maria Luiza Marcílio; Colaborador Maria Luiza Marcílio; Publicado por Edicoes Loyola, 1993; ISBN 851500724X, 9788515007240; 203 páginas; [1], página 30.
- "Se servistes à pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma."
- - "Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma", na Capela Real, ano 1669; in: "Sermões", Tomo I, página 105, Por António Vieira, organização Alcyr Pécora, Publicado por hedra, 2001 ISBN 8587328328, 9788587328328
- - "O Chrysostomo portuguez: ou, O padre Antonio Vieira da Companhia de Jesus. N'um ensaio de eloquencia compilado dos seus sermões segundo os principios da Oratoria Sagrada" - Página 109, de António Vieira - Publicado por M. Moreira, 1880
- "O desamparo e necessidade espiritual que aqui se padece é verdadeiramente extremo; porque os gentios e os cristãos todos vivem quase igual cegueira, por falta de cultura e doutrina, não havendo quem catequize nem administre sacramentos; havendo, porém quem cative e quem tiranize, e, o que é pior, quem o aprove; com que portugueses e índios todos se vão ao inferno."
- - Carta ao Príncipe Teodósio, logo após chegar ao Maranhão em 1653[1].
- - Pregado na Capela Real de Lisboa, no ano de 1655
- "Estamos às portas da Quaresma, que é o tempo em que principalmente se semeia a palavra de Deus na Igreja, e em que ela se arma contra os vícios. Preguemos e armemo-nos todos contra os pecados, contra as soberbas, contra os ódios, contra as ambições, contra as invejas, contra as cobiças, contra as sensualidades. Veja o Céu que ainda tem na terra quem se põe da sua parte. Saiba o Inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a palavra de Deus, e saiba a mesma terra que ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto: Et fecit fructum centuplum."
- - "Sermão da Sexagésima", parte X, último parágrafo
- "Que coisa é a conversão da alma, senão um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?"
- - "Sermão da Sexagésima", parte III
- - "Sermão da Sexagésima", parte IV
- "Uma coisa é expor, outra é pregar; uma ensinar e outra persuadir."
- - "Sermão da Sexagésima", parte VI
- "As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão pegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento."
- - "Sermão da Sexagésima", parte VII
- - Pregado em Roma na igreja de Santo Antônio dos Portugueses, no ano de 1672
- Ah! serpentes astutas do mundo vivas, e tão vivas! não vos fieis da vossa vida, nem da vossa viveza; não sois o que cuidais, nem o que sois: sois o que fostes, e o que haveis de ser. Por mais que vós vejais agora um Dragão coroado, e vestido de armas douradas, com a cauda levantada e retorcida, açoitando os ventos: o peito inchado, as asas estendidas, o colo encrespado, e soberbo, a boca aberta, dentes agudos, língua trifurcada, olhos cintilantes, garras, e unhas rompentes: por mais que se veja esse Dragão já tremular na bandeira dos lacedemônios, já passear nos jardins das Hespérides, já guardar os tesouros de Midas; ou seja Dragão volante entre os Meteoros, ou Dragão de estrelas entre as constelações, ou Dragão de Divindade afetada entre as Hierarquias, se foi vara, e há de ser vara, é vara; se foi terra, e há de ser terra, é terra; se foi nada, e há de ser nada, é nada, porque tudo, o que vive neste mundo, é o que foi, e o que há de ser.
- Notai. Esta nossa chamada vida, não é mais que um círculo que fazemos de pó a pó: do pó que fomos ao pó que havemos de ser. Uns fazem o círculo maior, outros menor, outros mais pequeno, outros mínimo: De utero translatus ad tumulum: mas ou o caminho seja largo, ou breve, ou brevíssimo; como é círculo de pó a pó, sempre, e em qualquer parte da vida somos pó.
- O dia que faz a vida, esse mesmo a desfaz.
- Estão essas praças no verão cobertas de pó: dá um pé-de-vento: levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos, e muitos vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo: anda, corre, voa: entra por esta rua, sai por aquela: já vai adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo cega, tudo penetra, em tudo, e por tudo se mete, sem aquietar, nem sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento, cai o pó, e onde o vento parou, ali fica: ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que pó, e que vento é este? O pó somos nós: Quia pulvis es: o vento é a nossa vida: Quia ventus es vita mea (Jó 7, 7). Deu o vento, levantou-se o pó: parou o vento, caiu. Deu o vento; eis o pó levantado: esses são os vivos. Parou o vento; eis o pó caído: estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó: os vivos pó levantado, os mortos pó caído: os vivos pó com vento, e por isso vãos; os mortos pó sem vento, e por isso sem vaidade. Esta é a distinção, e não há outra.
- Abri aquelas sepulturas (diz Agostinho) e vede qual é ali o senhor, e qual o servo: qual é ali o pobre, e qual o rico? Discerne, si potes: distingui-me ali se podeis o valente do fraco, o formoso do feio, o Rei coroado de ouro do escravo de Argel carregado de ferros? Distingui-los? Conhecei-los? Não por certo. O grande, e o pequeno, o rico, e o pobre, o sábio, e o ignorante, o senhor, e o escravo, o príncipe, e o cavador, o Alemão, e o Etíope, todos ali são da mesma cor.
- Se Deus, assim como fez um Adão, fizera dois, e o segundo fora mais sisudo que o nosso; nós havíamos de ser mortais como somos, e os filhos do outro Adão haviam de ser imortais. E estes homens imortais que haviam de fazer neste mundo? Isto mesmo que nós fazemos. Depois que não coubessem no Paraíso, e se fossem multiplicando, haviam-se de estender pela terra: haviam de conduzir de todas as partes do mundo todo o bom, precioso, e deleitoso, que Deus para eles tinha criado: haviam de ordenar cidades, e palácios, quintas, jardins, fontes, delícias, banquetes, representações, músicas, festas, e tudo aquilo que pudesse formar uma vida alegre, e deleitosa. Não é isto o que nós fazemos? E muito mais do que eles haviam de fazer: porque o haviam de fazer com justiça, com razão, com modéstia, com temperança: sem luxo, sem soberba, sem ambição, sem inveja; e com concórdia, com caridade, com humanidade. Mas como se ririam então, e como pasmariam de nós aqueles homens imortais! Como se ririam das nossas loucuras, como pasmariam da nossa cegueira, vendo-nos tão ocupados, tão solícitos, tão desvelados pela nossa vidazinha de dois dias, e tão esquecidos, e descuidados da morte, como se fôramos tão imortais como eles! Eles sem dor, nem enfermidade; nós enfermos, e gemendo: eles vivendo sempre; nós morrendo; eles não sabendo o nome à sepultura; nós enterrando uns a outros; Eles gozando o mundo em paz; e nós fazendo demandas, e guerras pelo que não havemos de gozar. Homenzinhos miseráveis (haviam de dizer) homenzinhos miseráveis, loucos, insensatos, não vedes que sois mortais? Não vedes, que haveis de acabar amanhã? Não vedes que vos hão de meter debaixo de uma sepultura, e que de tudo quanto andais afanando e adquirindo, não haveis de lograr mais que sete pés de terra? Que doidice, que cegueira é logo a vossa? Não sendo como nós, quereis viver como nós?
- Já que hei de ser pó por força, quero ser pó por vontade. Não é melhor que faça desde já a razão, o que depois há de fazer a natureza? Se a natureza me há de resolver em pó, eu quero-me resolver a ser pó, e faça a razão por remédio, o que há de fazer a natureza sem remédio. Não sei se entendestes toda a metáfora. Quer dizer mais claramente que o remédio único contra a morte, é acabar a vida antes de morrer. Este é o meu pensamento, e envergonho-me, sendo pensamento tão cristão, que o dissesse primeiro um gentio.
- A palavra corripiemur quer dizer seremos emendados, porque a morte é uma correção geral que emenda em nós todos os vícios. E de que modo? Por meio da mansidão, porque a todos amansa: Quoniam supervenit mansuetudo. – Morreu o leão, morreu o tigre, morreu o basilisco: e onde está a braveza do leão, onde está a fereza do tigre, onde está o veneno do basilisco? Já o leão não é bravo, já o tigre não é fero, já o basilisco não é venenoso, já todos esses brutos e monstros indômitos estão mansos, porque os amansou a morte: Quoniam supervenit mansuetudo. – E se assim emenda, e tanta mudança faz a morte nas feras, por que a não fará nos homens?
Ligações externas
[editar]- ↑ Os Jesuítas no Maranhão e Grão-Pará Seiscentista: Uma Análise Sobre os Escritos dos Protagonistas da Missão, acesso em 11 de novembro de 2016.