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José Eduardo Agualusa

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José Eduardo Agualusa
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José Eduardo Agualusa (Huambo, Angola; 13 de Dezembro de 1960) é um escritor angolano.


Obras

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Estação das Chuvas

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  • “Sabendo o que sabemos hoje poderíamos ser tentados a dizer que existe neste livre mais do que tristeza. Há outra coisa, um amargo sentimento de abandono.”
  • “Não sou político mas começo a compreender algumas coisas. Os sistemas são tão diferentes como do dia para a noite. Quando estive no Hospital Militar havia lá um guarda cubano -um homem simpático, parece-me que ainda estou a vê-lo. Era um camponês, em Cuba trabalhava na cana-de-açúcar e era tudo o que sabia fazer. Mas ofereceu-me como voluntário para vir lutar aqui, sem ser por dinheiro, pela República Popular de Angola. Deixou a família e os amigos, a casita onde vivia feliz para vir combater. Isso fez-me sentir envergonhado. Sentia-me pequenino –ao dizer isto, Ángel levantou a mão direita e mostrou o polegar e o indicador –senti-me como o polegar ao pé do indicador. Não sabia onde esconder-me. A diferença que existe entre ele e eu é como da noite para o dia. Vim para cá por avidez de dinheiro. É esse o sistema que vigora nos Estados Unidos. Ali, aquele que tem duas camisas quer ter vinte. Mas aqui as pessoas ficam satisfeitas se tiverem apenas duas camisas.”
  • “Em criança tirei um pássaro de dentro de uma pequena gaiola. O pássaro não voou. Ficou ali andando aos círculos, aos círculos, aterrorizado com a largueza do mundo e a responsabilidade enorme de ter de sobreviver por si. Quando me libertaram eu senti-me assim. Vagueava pelas ruas sem rumo certo. Também tinha dificuldade em reconhecer as coisas e as pessoas. Aquela cidade já não me pertencia ao meu organismo, era uma prótese.
  • Uma vez levaram-me a uma festa. Estranhei as roupas, as calças com pregas e sem vinco, justas no calcanhar. Os rapazes tinham o cabelo curto e as pastilhas aparadas rente às de uma estupidez sólida, franca e fundamental, que contagiava os outros. Eu não sabia dançar, não conhecia as músicas e nem sequer os músicos. As pessoas olhavam-me de lado –era o que eu julgava, possivelmente nem sequer reparavam em mim –e evitavam conversar sobre a situação política. Mesmo os nossos amigos companheiros estavam mudados. Um disse-me: “Olha, o que passou, passou. Foram erros de juventude, paciência, tens que esquecer de tudo isso e começar uma vida nova. Fazes de conta que nada aconteceu.””