História indígena

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História Indígena[editar]

Esta página tem por objetivo trazer citações de historiadores sérios e comprometidos com a história e assim contribuir para a difusão do conhecimento acadêmico sobre os povos indígenas do período colonial.

Nossa abordagem destaca a resistência e persistência das comunidades indígenas em meio às transformações impostas pelo contato com os colonizadores.

Iremos destacar como esses povos, embora tenham enfrentado opressão e violência, também buscaram formas de preservar suas culturas, conhecimentos e sistemas sociais.


Maria Regina Celestino de Almeida[editar]

Citações retiradas do livro Os Índios na História do Brasil (2010)

  • "‘Os índios não estavam na América a disposição dos europeus, e se muitos os receberam de forma extremamente aberta e cordial, oferecendo-lhes alimento, presente e, inclusive, mulheres, não o fizeram por ingenuidade ou tolice. A abertura ao contato com o outro é uma característica cultural de muitos grupos indígenas americanos e especialmente dos tupis.”(p.26)[1]
  • “A considerável homogeneidade linguística e cultural dos tupis facilitou o contato e conhecimento sobre eles, mas deu margem a descrições simplistas. Muitos cronistas e missionários reconheciam e apontavam as diferenças, mas tendiam a acentuar as semelhanças.” (p.32)[2]
  • “Ao analisar a função social da guerra entre os tupinambás [...] Florestan Fernandes considerou-a elemento básico na organização e reprodução social dos grupos. Ela construía sentido e coesão social.” (p.36)[3]
  • “Os europeus inseriram-se nessas relações intertribais. Na condição de aliados ou inimigos, tinham um papel a desempenhar na sociedade tupinambá.” (p.38)[4]

Citações retiradas do artigo “A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas” na Revista Brasileira de História (2017)

  • “A identificação dos diferentes grupos étnicos que responderam ao contato com os europeus de formas distintas desmonta esquemas simplistas que apresentavam os combatentes em blocos monolíticos e cristalizados nos papéis de aliados ou de inimigos. No Rio de Janeiro, ao invés de franceses e tamoios de um lado e portugueses e temiminós de outro, percebemos uma complicada rede de interações na qual circulavam os diferentes subgrupos tupis, em um vaivém de acordos e disputas entre si e com os europeus.” (p.22)[5]
  • “Os líderes indígenas, por sua vez, sabedores da importância do seu papel, negociavam suas alianças em troca de benefícios que iam além dos ganhos materiais. Suas importantes funções, principalmente nas guerras, abriam espaço para certa ascensão social que, embora limitada, foi por eles bastante valorizada.” (p.24)[6]
  • “Essenciais na política de colonização, as aldeias, estabelecidas com o acordo entre Coroa e Igreja, visavam não apenas cristianizar os índios, mas ressocializá-los, tornando-os súditos cristãos do rei, com vários papéis a cumprir na nova sociedade que se construía.” (p.26)[7]
  • “Apesar da escassez de fontes para se identificar os escravos índios dadas as restrições legislativas, há claros indícios de sua ampla existência na capitania até, pelo menos, a segunda metade do século XVII.” (p.27)[8]
  • “Apesar da condição subalterna e dos incalculáveis prejuízos, abusos e explorações que lhes eram impostos, os índios participaram ativamente dos embates sobre seu trabalho.” (p. 28)[9]

Emerson de Carvalho Guimarães[editar]

Citações da tese de doutorado, Para além do Tombamento Os Sentidos da Patrimonialização da Igreja de São Lourenço dos Índios de Niterói (2020)

  • "Segundo a arqueóloga Rosana Najjar a fundação de um aldeamento pelos jesuítas não se dava a partir da existência de uma igreja. Pelo contrário, era a partir da atividade de catequese que os religiosos passavam a conquistar a confiança dos indígenas para desenvolver a organização do aldeamento, e na conclusão e afirmação desse processo é que se iniciava a construção da igreja que identificava a comunidade aldeada.” (p.14)[10]
Capa do livro A Presença Indígena na Formação do Brasil - 2006

João Pacheco de Oliveira, Carlos Augusto da Rocha Freire[editar]

Citações retiradas do livro, A Presença Indígena na formação do Brasil (2006)

  • “O pintor holandês Albert Eckhout representou essa ruptura conceitual na sua obra: nos quadros que retratam índios Tupis e “Tapuios”, os índios “aliados” eram pacíficos, trabalhadores, tinham família, andavam vestidos (foram “domesticados”), estavam acessíveis ao trabalho cotidiano, enquanto os índios “bravos” (bárbaros) eram antropófagos que andavam nus, carregando despojos esquartejados como alimentação e guerreavam os colonizadores.” (p.29)[11]
  • “A disciplina imposta aos índios para que se tornassem vassalos do reino português envolvia uma resistência pouco conhecida: frequentemente os índios negavam o aprendizado, abandonando os aldeamentos em busca de seus territórios nos sertões.” (p.47)[12]
  • “O contato dos povos indígenas com os invasores coloniais – portugueses, franceses, holandeses etc. – não pode ser reduzido ao binômio extermínio e mestiçagem. Desde as primeiras relações de escambo (Marchant, 1980), passando pelas inúmeras alianças guerreiras até o desespero causado pelas epidemias de varíola, cada povo indígena reagiu a todos os contatos a partir do seu próprio dinamismo e criatividade.” (p.51)[13]
  • “O desentendimento entre jesuítas e colonos quanto à utilização da mão-de-obra indígena levou à omissão das autoridades espanholas em face dos ataques dos bandeirantes paulistas contra as reduções. Tais ataques ocorreram entre o final do séc. XVI e 1640, quando Portugal esteve submetido à Coroa espanhola no reinado de Felipe II e Felipe III.” (p.58)[14]
  • “Os padres caíram em descrédito, perdendo autoridade junto aos índios que passaram a se organizar militarmente para enfrentar portugueses e espanhóis. A “guerra guaranítica” desenvolveu-se através de pequenas escaramuças durante cinco anos, até que as forças guarani, chefiadas pelo capitão Sepé Tiaraju, índio da redução de São Miguel, enfrentaram os exércitos castelhanos e portugueses em fevereiro de 1756.” (p.60)[15]
  • “Nas aldeias transformadas em vilas, os índios passariam a ser governados por juízes e vereadores, e não mais pelos missionários, o que os igualava de um ponto de vista formal aos demais cidadãos. Daí que algumas fontes historiográficas falassem em “emancipação do índio”, perigoso eufemismo que levou a ignorar muitos aspectos nocivos para os indígenas do modelo colonizatório proposto pelo Diretório.” (p.71)[16]
  • “Os índios considerados “assimilados” sofreram grandes perdas patrimoniais. A garantia dos direitos indígenas dependia da atuação dos dirigentes públicos. As sesmarias e as terras de aldeamentos já tituladas deviam ser revalidadas. Estas terras começavam a dificultar o desenvolvimento de regiões litorâneas, sendo muitas vezes identificadas como devolutas apenas como uma etapa de sua transferência ao domínio privado, tornando-se de imediato objeto de projetos colonizadores. Muitos índios que tinham títulos legítimos de terras foram expulsos de suas propriedades. Descendentes de indígenas perderam direitos de herança territorial.” (p.75, 76)[17]

Carlos Fausto[editar]

Citações retiradas do livro Os Índios antes do Brasil (1999)

  • “Os sistemas sociais indígenas existentes às vésperas da conquista não estavam isolados, mas articulados local e regionalmente. Ao que tudo indica, vastas redes comerciais uniam áreas e povos distantes. Movimentos em uma parte produziam efeitos em outra, por vezes a quilômetros de distância. O comércio, a guerra e as migrações articulavam as populações indígenas do passado de um modo mais intenso do que observamos hoje.” (p.9, 10)[18]
  • “A discussão sobre a paisagem etnográfica do continente no momento da conquista foi dominada por essa tipologia evolucionista, realizada à sombra do estado. A própria classificação de Steward fora, na verdade, concebida de cima para baixo. O império Inca, como o ápice do desenvolvimento no continente, acabou por definir os demais tipos por carência, levando à caracterização dos povos das terras baixas pela negativa.” (p.14, 15)[19]
  • “Quando Cristovão Colombo aportou na América, mais precisamente nas Antilhas, encontrou-a densamente ocupada por uma população de língua arawak conhecida como Taino. Esse povo, que seria dizimado em poucas décadas por epidemias e maus tratos, denominava seus chefes kasik — termo a partir do qual os espanhóis criaram o neologismo cacicazgo para designar uma província subordinada a um “cacique”. Portanto, cacicado é a rigor o sistema político taino”. (p.36)[20]
  • “Alguns autores sugerem que, no passado, havia uma distinção entre nobres, comuns e escravos. “Escravo” é um termo empregado com frequência pelos cronistas para caracterizar os cativos de guerra; a categorização respondia a interesses bem práticos: as “tropas de resgate” só podiam escravizar os índios que já fossem escravos.” (p.49)[21]
  • “Essa antiga imagem de “primitividade” e “marginalidade” dos Jê não resistiu, porém, às investigações etnológicas realizadas a partir dos anos 1920. Os trabalhos pioneiros de Curt Nimuendaju e Claude Lévi-Strauss transformaram essa imagem secular sobre o sertão. Os Jê deixaram de ser vistos como caçadores nômades para serem descritos como praticantes de uma sofisticada economia bimodal, que combina períodos de dispersão com outros de agregação em grandes aldeias, estruturadas internamente por um conjunto de metades cerimoniais, por grupos etários e por segmentos residenciais. Essa estrutura não apenas permitiria a reunião de uma população numerosa em um mesmo local, como torna-la-ía necessária para o pleno funcionamento institucional.” (p.62)[22]
  • “O que teria faltado então, aos Tupinambás para se erguerem além do “nível tribal”, com tal contingente demográfico e explorando ecossistemas tão ricos? Para uns faltou faltou-lhes tempo; para outros, sobrou-lhes espaço: uma maior densidade populacional e circunscrição ecológica teriam posto a evolução em movimento. Para outros, ainda, eles nutriam um horror ao estado – horror que seria materializado na figura dos grandes xamãs, os karaíba, que lideraram movimentos proféticos.” (p.81)[23]


Referências[editar]

  1. CELESTINO, Maria Regina. Os Índios na Hitória do Brasil, 26. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010
  2. CELESTINO, Maria Regina. Os Índios na Hitória do Brasil, 32. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010
  3. CELESTINO, Maria Regina. Os Índios na Hitória do Brasil, 36. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010
  4. CELESTINO, Maria Regina. Os Índios na Hitória do Brasil, 38. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010
  5. CELESTINO, Maria Regina. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas, Revista Brasileira de História, v.37, n. 75, São Paulo: ANPUH, 2017
  6. CELESTINO, Maria Regina. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas, Revista Brasileira de História, v.37, n. 75, São Paulo: ANPUH, 2017
  7. CELESTINO, Maria Regina. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas, Revista Brasileira de História, v.37, n. 75, São Paulo: ANPUH, 2017
  8. CELESTINO, Maria Regina. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas, Revista Brasileira de História, v.37, n. 75, São Paulo: ANPUH, 2017
  9. CELESTINO, Maria Regina. A atuação dos indígenas na História do Brasil: revisões historiográficas, Revista Brasileira de História, v.37, n. 75, São Paulo: ANPUH, 2017
  10. GUIMARÃES, Emerson. Para além do Tombamento. 14. ed. Rio de Janeiro: UFF, 2020
  11. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 29. ed. Brasília: SECAD, 2006
  12. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 47. ed. Brasília: SECAD, 2006
  13. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 51. ed. Brasília: SECAD, 2006
  14. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 58. ed. Brasília: SECAD, 2006
  15. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 60. ed. Brasília: SECAD, 2006
  16. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 71. ed. Brasília: SECAD, 2006
  17. OLIVERIA, João, FREIRE Carlos Augisto. A Presença Indígena na formação do Brasil. 75-76. ed. Brasília: SECAD, 2006
  18. FAUSTO, Carlos. Os Índios antes do Brasil. 9-10. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999
  19. FAUSTO, Carlos. Os Índios antes do Brasil. 14-15. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999
  20. FAUSTO, Carlos. Os Índios antes do Brasil. 36. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999
  21. FAUSTO, Carlos. Os Índios antes do Brasil. 49. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999
  22. FAUSTO, Carlos. Os Índios antes do Brasil. 62. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999
  23. FAUSTO, Carlos. Os Índios antes do Brasil. 81. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1999