Graciliano Ramos

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Graciliano Ramos de Oliveira (Quebrangulo, 27 de outubro de 1892Rio de Janeiro, 20 de março de 1953), é considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX e proeminente representante do Romance de 30.


Obras[editar]

Caetés[editar]

1933

  • Publicações Europa-América, Editor : Francisco Lyon de Castro, Gráfica Europam, Lda., Mira-Sintra, Edição n°40 890/3580
  • "Luisa queria mostrar-me uma passagem no livro que lia. Curvou-se. Não me contive e dei-lhe dois beijos no cachaço. Ela ergueu-se, indignada:

-O senhor é doido? Que ousadia é essa? Eu...

Não pôde continuar. Dos olhos, que deitavam faíscas, saltaram lágrimas. Desesperadamente perturbado, gaguejei tremendo:

-Perdoe, minha senhora. Foi uma doidice.

- Cap. 1,página 13
  • "Ateu! Não é verdade. Tenho passado a vida a criar deuses que morrem logo, idolos que depois derrubo. Uma estrela no ceu, algumas mulheres na terra.."
- Últimas três linhas de Caétes

São Bernardo[editar]

1934

  • Publicações Europa-América, Editor : Francisco Lyon de Castro, Gráfica Europam, Lda., Mira-Sintra, Edição n°40 836/3277
- Cap. 3,página 14
  • ”Começo declarando que me chamo Paulo Honório, peso oitenta e nove quilos e completei cinquenta anos pelo S.Pedro. A idade, o peso, as sobrancelhas cerradas e grisalhas, este rosto vermelho e cabeludo, têm-me rendido muita consideração. Quando me faltavam estas qualidades, a consideração era menor.”
- Cap. 4,página 16
  • ”Resolvi estabelecer-me aqui na minha terra, município de Viçosa, Alagoas, e logo planeei adquirir a propriedade São Bernardo, onde trabalhei, no eito, com salário de cinco tostões.”
- Cap. 6,página 23
  • ”Naquele segundo ano houve dificuldades medonhas. Plantei mamona e algodão, mas a safra foi ruim, os preços baixos, vivi meses aperreado, vendendo macacos e fazendo das fraquezas forças para não ir ao fundo”.

Angústia[editar]

1936

  • "Certos lugares que me davam prazer tornaram-se odiosos. Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição."
- Cap. 1
  • "Os defeitos, porém, só me pareceram censuráveis no começo das nossas relações. Logo que se juntaram para formar com o resto uma criatura completa, achei-os naturais, e não poderia imaginar Marina sem eles, como não a poderia imaginar sem corpo."
- Cap. 14
  • "Escolher marido por dinheiro. Que miséria! Não há pior espécie de prostituição."
- Cap. 17
  • "É uma tristeza. A senhora lavando, engomando, cozinhando, e seu Ramalho na quentura da usina elétrica, matando-se para sustentar os luxos daquela tonta. Sua filha não tem coração."
- Cap. 18
  • "Nunca presto atenção as coisas, não sei para que diabo quero olhos. Trancado num quarto, sapecando as pestanas em cima de um livro, como sou vaidoso, como sou besta! Idiota. Podia estar ali a distrair-me com a fita. Depois, finda a projeção, instruir-me vedos as caras. Sou uma besta. Quando a realidade me entra pelos olhos, o meu pequeno mundo desaba."

Vidas Secas[editar]

1938

  • “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda da pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.” Cap. 1
  • “Se não fosse aquilo... Nem sabia. O fio da idéia cresceu, engrossou – e partiu-se. Difícil pensar. Vivia tão agarrado aos bichos... Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares. O demônio daquela história entrava-lhe na cabeça e saía. Era para um cristão endoidecer. Se lhe tivessem dado ensino, encontraria meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar com bichos.” Cap. 3

Infância[editar]

1945

  • Publicações Europa-América, Editor : Francisco Lyon de Castro, Gráfica Europam, Lda., Mira-Sintra, Edição n°40 914/3768
  • “A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada, cheio de pitombas, escondido atrás de uma porta”.Pág.13
  • ”Disseram-me depois que a escola nos servira de pouso numa viagem. Tinhamos deixado a cidadezinha onde vivíamos, em Alagoas, entrávamos no sertão de Pernambuco, eu, meu pai, minha mãe, duas irmãs”.Pág.14

Memórias do Cárcere[editar]

1953

  • "Quem dormiu no chão deve lembra-se disto, impor-se disciplina, sentar-se em cadeiras duras, escrever em tábuas estreitas. Escreverá talvez asperezas, mas é delas que a vida é feita: inútil negá-las, controná-las, envovê-las em gaze."

Em Liberdade[editar]

  • "Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano."
  • "Se a igualdade entre os homens- que busco e desejo- for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela."