Utilizador:Apolenario Portugal

Origem: Wikiquote, a coletânea de citações livre.


                                                 Apolenário Hipólito Salazar Portugal







                                                  Relatório do Estágio Em Psicologia Social
                                         Centro de Saúde Mental São João de Deus; Cidade em Nampula








                                                               Universidade Pedagógica
                                                                       Nampula
                                                                        2015



Lista de Abreviaturas

DPS-Dіrecçãо Prоvіncіal de Saúde CSMN-Centro de Saúde Mental em Nampula SJDN-São João de Deus em Nampula UPM-Universidade Pedagógica de Moçambique PPS-Práticas em Psicologia Social SNS-Serviços Nacional de Saúde MISAU-Mіnіstérіо da Saúde OMS-Organização Mundial de Saúde



Agradecimentos


Ao finalizar este percurso tão importante da minha vida queria expressar o meu agradecimento a todos aqueles que estiveram presentes na realização deste estágio e me apoiaram nesta caminhada e que, direta ou indiretamente, tornaram possível a realização deste trabalho. Este trabalho não seria possível se não fosse pela compreensão e atenção da minha supervisora/orientadora do estágio Dra. Amélia Ernesto Tocova, e o director do CSM Ir. José Paulo Simões Pereira, agradeço por toda a paciência, por toda a aprendizagem e por toda a dedicação. Gostaria de agradecer ao meu coordenador de estágio, MA. António Nurmahomed Q.F. Suleman, toda a orientação e atenção disponibilizadas.

Aos profissionais de saúde do CSM S. João de Deus em Nampula quero agradecer pela colaboração nesta investigação, uma vez que sem eles, peças chave em todo este processo, o estudo não seria possível. Os meus colegas do curso que sempre me apoiaram nos melhores e piores momentos ao longo deste estágio em comum; Aos meus pais por todo o esforço que fizeram para que eu conseguisse seguir os meus sonhos e aos meus irmãos, que em todos os momentos tiveram uma palavra especial de incentivo ajudando-me a superar momentos menos bons. São os melhores pais e irmãos do mundo.



Dedicatória

Dedico para a minha conjuntura familiar especialmente para os meus irmãos, e os meus Pais sem me esquecer de todos os docentes da UP, que leccionam o curso de psicologia no 4˚ano, que dia-a-dia іluminam o meu caminho para o meu desenvolvimento académico.



Declaração

Apolenário Hipólito Salazar Portugal, estudante desta instituição de ensino superіоr desde o presente ano de 2012, Curso de licenciatura em psicologia com habilitações em psicologia Social e das Organizações do 4˚ano, declaro que os dados constantes no presente relatório do estágio em psicologia social são verdadeiros e resultou de uma prefeita investigação por mim efetuada.


                                                       Nampula aos 05 de јunhо de 2015
                                                                   Assinatura
                                                 ------------------------------------------------
                                                      (Apolenário Hipólito Salazar Portugal)



Resumo:

O presente relatório de estágio, relativo ao 4º ano de Licenciatura em Psicologia e com Habilitações em Psicologia Social na Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia da Universidade Pedagógica de Moçambique (UP), descreve as actividades realizadas ao longo do ano letivo 2015. O estágio realizou-se no Centro de Saúde Mental S. João de Deus em Nampula (CSM S. João de Deus). O presente relatório encontra-se dividido em três partes. A primeira parte retrata a instituição de trabalho e o tipo de atividades aí desenvolvidas. A segunda parte retrata a intervenção efetuada pelo estagiário, intervenção em cinco casos clínicos, quatro deles apresentados sumariamente e um aprofundadamente, uma intervenção em grupo que aborda a comunicação assertiva e uma acção de formação sobre o impacto do stress no contexto laboral. A terceira e última parte, baseia-se numa reflexão e conclusão do relatório de estágio, assim como do tempo passado, da experiência passada em estágio.

.

Índice

Introdução 3 1. Caracterização da Instituição 4 1.1. Cinco Unidades de Internamento 6 1.1.2. Unidades do Centro de Saúde Mental S. João de Deus 6 2. Actividades desenvolvidas pela instituição 6 3. Levantamento de necessidades, prioridades e restrições do contexto institucional 7 4. Caracterização da intervenção 8 4.1.2. Estudo de Caso Detalhado: “S” 8 I - Dados de Identificação 8 II - Motivo da Consulta 9 III – Problema apresentado e história do problema 9 IV - História bio-psico-social 11 V - Exame do Estado Mental 13 VI – Avaliação Psicológica 13 VII- Diagnóstico: 15 VIII - Conceptualização do caso 16 IX- Plano de intervenção 19 X - Reflexão sobre o caso 20 5. Intervenção em Grupo (Comunicação Assertiva) 21 5.1. Estratégias de intervenção e plano de actividades 21 1ª Sessão – A COMUNICAÇÃO 21 2ª Sessão – COMUNICAÇÃO ASSERTIVA 23 3ª Sessão – TIPOS DE COMUNICAÇÃO/COMPORTAMENTO 23 5.2. Estratégias de avaliação do processo /resultados 24 6.Horario de Serviço do CSM 24 7.As actividades relativas a Enfermagem 24 8.Analise de dados documentais 25 Conclusão 26 Bibliografia 27 Fontes Orais: 27










Introdução

“O estágio é um locus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida. Volta-se para o desenvolvimento de uma acção vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planeada gradualmente e sistematicamente” Burriola, M. (1995).

O presente relatório pretende descrever as actividades que foram efetuadas ao longo do ano letivo 2015 no estágio desenvolvido no âmbito do quarto ano da Licenciatura em Psicologia com habilitação em Psicologia Social da Universidade Pedagógica de Moçambique – Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia.

Enquadrando o presente estágio, este realizou-se no Centro de Saúde Mental S. João de Deus em Nampula (CSM S. João de Deus) tendo como principal objectivo a aquisição de competências de avaliação e intervenção psicológica no contexto clinico e psicossocial adequado à população, que nela se encontra institucionalizada. Assim, as actividades desenvolvidas foram dirigidas a essa mesma população, que se encontra internada, distribuída por cinco Unidades de Internamento ( CSM S. João de Deus).

Dada a importância do papel que o psicólogo social tem no contexto de institucionalização de doentes mentais, deficientes mentais e doentes psicogeriátricos, as actividades implementadas no presente estágio foram orientadas não apenas para a aquisição de competências, mas também para a promoção da saúde e bem-estar dos utentes no local de estágio. Neste sentido, as actividades levadas a cabo durante o estágio contemplaram diversas intervenções individuais, uma intervenção em grupo e uma acção de formação. Assim, para dar a conhecer e descrever a metodológia e conceptualmente as actividades implementadas, este relatório aborda inicialmente a caracterização da instituição e as suas Áreas de Intervenção Nacional. Seguidamente faço a caracterização dos casos clínicos/psicossocial individuais e finalmente a descrição tanto da intervenção em grupo como da acção de formação que foram desenvolvidas.


1. Caracterização da Instituição

O local onde decorreu o presente estágio foi no Centro de Saúde Mental S. João de Deus em Nampula, sendo esta uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) vocacionada para o auxílio aos doentes e aos mais carenciados.

O Centro de Saúde Mental S. João de Deus, situada em Nampula, é um Centro Assistencial na área da Psiquiatria, Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial. Foi inaugurada em 27 de Novembro de 2004. Recuando até em 1681 o ano em que o seu fundador de origem português chegou a Moçambique, em 1958 ano em que o Santo da Hospitalidade (o fundador: S. Rafael de Deus) morreu, deixando já alguns continuadores que tinham observado atentamente a sua obra e queriam seguir os seus passos. O grupo de Hospitaleiros que seguiu a obra de S. João de Deus foi aumentando, percorrendo outras cidades e angariando esmolas para os seus doentes.

Rodrigo de Singuenza, foi um dos primeiros companheiros de S. João de Deus, que decidiu enviar a Roma alguns Irmãos para pedir ao Santo Padre o reconhecimento oficial do CSM. A 1 de Janeiro de 1971 foi aprovado oficialmente o Centro pela Santa Sé. Sisto V, amigo e grande benfeitor da Ordem Hospitaleira, por meio do breve "Etsi pro Debito", de 1 de Outubro de 1986, elevou o Centro de simples Congregação à categoria de Ordem Religiosa.

Os Irmãos de S. João de Deus, seguindo o exemplo do seu fundador, prestam o seu contributo tentando abordagens diferentes junto daqueles que padecem as moléstias da doença, recebem todo o tipo de doentes e necessitados mas têm uma especial predileção pelos doentes mentais, os mais maltratados socialmente e os que ninguém quer cuidar. Hoje a Ordem Hospitaleira está presente em cerca de 50 nações, nos cinco continentes, em quase 300 Obras Apostólicas. Existem perto de 1.500 Irmãos de S. João de Deus, cuja acção se complementa com os mais de 40.000 colaboradores, 5.000 voluntários e 300.000 benfeitores-colaboradores.

O trabalho desenvolvido neste Centro baseia-se numa assistência integral e holística que visa a saúde física, psíquica, bem como condições de vida digna à pessoa em sofrimento. Neste âmbito, irá coordenar e patrocinar a investigação, a formação, a assistência e a cooperação nas áreas da saúde, da integração social e comunitária, do desenvolvimento humano e do melhoramento da prevenção, assistência e reabilitação dos doentes. Ainda como a Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONG-D), a instituição, tem como objectivo a coordenação ou apoio de outras iniciativas principalmente nos países em vias de desenvolvimento e subdesenvolvidos tais como ajudas humanitárias de emergência ou de calamidade pública, de reabilitação e de desenvolvimento social e comunitário. A estrutura humana é constituída por cerca de uma centena de Colaboradores, técnicos e não técnicos (Psiquiatras, médicos de clinica geral, psicólogos, assistente social, enfermeiros, terapeuta ocupacional, monitores de actividades ocupacionais, administrativos, auxiliares de diversas áreas, tais como, apoio aos doentes, limpeza, entre outros).

Relativamente à caracterização dos doentes, ao Centro de Saúde Mental S. João de Deus em Nampula, tem duzentos e quinze doentes internados que se encontram distribuídos por cinco Unidades de Internamento (S. Bento Menni; S. João de Deus; S. João Grande; Pierluigi Marchesi e a Residência Angulo), três das quais são de longo internamento e a outra é de Psicogeriatria e por uma Unidade de Vida Apoiada (equiparada), unidades essas que passamos a caracterizar. Esta propriedade da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus em Nampula, a qual assume a gestão privada, em parceria com a Direcção Provincial de Saúde de Nampula (DPS), mediante Memorando de entendimento entre as duas partes. O Ministério da Saúde de Moçambique financia o funcionamento e os recursos humanos do Centro e a Ordem Hospitaleira procura alguns financiamentos externos para projectos concretos, para além da gestão ordinária do Centro.

O CSM está situado a 4 km da Cidade de Nampula, no Bairro de Mutauanha. É de âmbito regional, uma vez que atende os doentes de toda a zona norte do país (Nampula, Niassa, Cabo Delgado e norte da Zambézia) e de alguns países limítrofes. Responde a uma população de cerca de 13 milhões de habitantes.


1.1. Cinco Unidades de Internamento 1.1.2. Unidades do Centro de Saúde Mental S. João de Deus

Esta Unidade destina-se a pessoas com doença mental, com idade inferior a sessenta e cinco anos e que se encontram em regime de internamento prolongado. Tem uma capacidade de 50 camas visando promover a integração dos doentes que, nela, residem em programas de reabilitação psicossocial através de treinos de actividades de vida diária, aptidões sociais, entre outras. Relativamente a outras actividades de carácter psicoeducativo são realizadas, centrando-se em temas como a perceção da doença e do tratamento, sexualidade, adaptação às experiências ocupacionais e ao uso adequado dos tempos de lazer.

2. Actividades desenvolvidas pela instituição

A actuação do CSM S. João de Deus em Nampula, é de âmbito nacional, prosseguindo fins de saúde, assistência, reabilitação e reinserção social em todos os Centros Assistenciais. Assim, podemos proferir que a intervenção do CSM S. João de Deus concentra-se na realização de quatro grandes domínios.

• No primeiro domínio a atuação refere-se à prestação de cuidados de saúde a pessoas portadoras de doença mental, na fase aguda, com intervenção na crise, e em casos de doença de evolução prolongada, com inserção nas diferentes unidades consoante a sua patologia e o seu grau de autonomia.

• A reabilitação psicossocial, cuja intervenção visa atingir o maior grau de autonomia possível do utente, procura melhorar a qualidade de vida através de acções ao nível sócio ocupacional (ateliês de ocupação e ateliês de actividade produtivas).

Ainda no primeiro domínio insere-se o tratamento de doentes dependentes do álcool e toxicodependência pela desintoxicação orgânica e pela reabilitação psicológica, familiar e social do doente alcoólico, incluindo cuidados médicos, os cuidados de enfermagem, avaliações e o apoio psicológico, as sessões pedagógicas, os treinos de assertividade, relaxamento e integração sensorial, apoio sociofamiliar e intervenção de pastoral da saúde e animação. Há ainda serviços de psicogeriatria/gerontopsiquiatria, às pessoas idosas que sofram de patologia psiquiátrica, com programas de intervenção específicos, globais e individualizados.

A prestação de cuidados de geriatria, enquadrados ao nível residencial, numa estrutura com acompanhamento médico, psicológico, de fisioterapia, de enfermagem e do serviço de pastoral de saúde e animação, assim como, a prestação de cuidados continuados, em regime temporário, com o objectivo de prestar cuidados de saúde iniciados no internamento hospitalar ou de agudização de episódios de doença crónica, estão presentes no terceiro domínio.

• No quarto e último domínio, refere-se ao acolhimento dos sem-abrigo, imigrantes ou nacionais, em situação de emergência humanitária. São espaços de acolhimento temporário, promovendo o apoio psicossocial destinados prioritariamente aos cidadãos em extrema vulnerabilidade.

3. Levantamento de necessidades, prioridades e restrições do contexto institucional

Durante todo este percurso foi notória a presença de algumas necessidades na instituição, o que acaba por não contribuir para uma melhor eficácia junto com os utentes.

Após a observação ao longo dos cinco meses foram evidentes as seguintes necessidades:

(i) Escasso número de profissionais de saúde, principalmente no âmbito da psicologia, sendo que o CSM apenas usufrui de dois psicólogos para um número elevado de utentes, acabando por não terem a intervenção necessária para melhorar a sua qualidade de vida; (ii) A falta de comunicação entre os profissionais de saúde, o que origina a carência do trabalho em equipa. Deveria assim, haver um maior número de discussão de casos entre as equipas multidisciplinares;

(iii) Necessidade de formação dos técnicos e funcionários relativamente à comunicação e relacionamento com os utentes institucionalizados, formação com os técnicos e auxiliares relativamente à gestão de stress e formação de técnicos ao nível da comunicação de más notícias; 

(iv) Acompanhamento/intervenção individual a um maior número de utentes institucionalizados, pois poucos são aqueles que têm consultas de psicologia; (v) Escassa intervenção em grupo de forma a desenvolverem melhor as relações interpessoais; (vi) Desenvolvimento de competências de comunicação e treino de actividades de vida diária com os utentes; (vii) Desenvolvimento de estratégias, técnicas e actividades a nível cognitivo em utentes com demência, esquizofrenia e outras patologias crónicas;

4. Caracterização da intervenção

Em seguida serão descritas as actividades desenvolvidas neste estágio, nomeadamente as intervenções individuais, de grupo e as actividades de formação para os cuidadores formais.

4.1. Casos Clínicos Individuais 4.1.2. Estudo de Caso Detalhado: “S” I - Dados de Identificação

“S” é um homem de 28 anos de idade e é do sexo masculino. Concluiu a 12ª classe de escolaridade. É o primeiro de uma fratria de 2 filhos. “S ” reside no meio urbano e provém de uma família de nível socioeconómico médio. É divorciado desde 2009 e não tem filhos. O utente já trabalhou em diversas áreas profissionais, no entanto, actualmente encontra-se reformado e a residir no CSM S. João de Deus em Nampula. O utente foi internado voluntariamente no dia 18 de Março de 2015 e acompanhado nas consultas individuais até ao dia 13 de Maio de 2015.

II - Motivo da Consulta

Internado no Hospital Central de Nampula, onde foi diagnosticado com Esquizofrenia Paranóide (segundo o processo clínico), foi transferido posteriormente para o Centro de Saúde Mental S. João de Deus em Nampula (18 de Março de 2015). O paciente foi encaminhado para acompanhamento psicológico por indicação da equipa multidisciplinar tendo com objectivo analisar e avaliar a adaptação do utente ao CSM. Actualmente o paciente está a ser medicado com Anatensol Decanoato; Lorazepam; Olanzepina e Haloperidol (informação recolhida no seu processo clínico).

III – Problema apresentado e história do problema

O utente apresentava (segundo o processo clínico) episódios de explosividade e agressividade verbal e física dirigida aos familiares. As primeiras manifestações problemáticas parecem ter surgido por volta dos 18/19 anos de idade, quando “S” começou a trabalhar. O utente relata que faltava com regularidade ao trabalho, por se encontrar doente (gripes e constipações) ou até mesmo por falta de vontade. Refere ainda que quando os colegas de trabalho o tentavam aconselhar “S” respondia de forma impulsiva, gritando-lhes.

No seu último emprego, como operário fabril numa indústria têxtil, o utente refere que numa das discussões (cada vez mais frequentes) com outros colegas de trabalho partiu para a agressão. Segundo “S”, foi a primeira vez que agrediu, com bastante gravidade, alguém. Imediatamente após a agressão descreve uma sensação de alívio, mas, horas mais tarde diz que se sentiu envergonhado e arrependido pelos seus atos. Este parece ter sido o acontecimento de vida que desencadeou no utente o início e desenvolvimento das dificuldades, afetando a sua vida social, familiar e afetiva.

“S” descreve o pai como sendo uma pessoa rígida e autoritária e que, segundo ele, ambos entravam facilmente em conflito. O utente conta que, quando tinha 25 anos numa das discursões com o seu pai o agrediu violentamente com um ferro na cabeça, tendo necessitado de ajuda médica (pontos na cabeça). Meses (3/4) mais tarde, antes do sair para trabalhar, o seu pai passou pelo quarto de “S” e, num tom alto, disse-lhe para se levantar e ir procurar trabalho uma vez que estava farto de o sustentar, bateu a porta com força e saiu para o trabalho.

O utente enfurecido levantou-se e dirigiu-se ao local de trabalho do pai, posto da CDM, levando consigo um machado. “S” não conseguiu bater no pai, uma vez que foi impedido à porta do posto da CDM e conta que como ofereceu resistência foi necessário, por parte dos policiais, a utilização de gás pimenta para imobiliza-lo.

Posteriormente, revela outros episódios violentes, como por exemplo, durante o seu casamento, de cerca de 2 anos, relatou que bateu na ex-mulher, mais do que uma vez, citando “ela era muito chata, às vezes tínhamos discussões e eu enervava-me e batia-lhe e outras vezes era quando bebia, mas atenção porque eu só bebia de vez em quando e eram só cervejas. Mas depois arrependia-me, pedia-lhe desculpa porque sabia que tinha exagerado” (sic). “S” relata que perde facilmente a calma por pequenas coisas.

Para além destes, existem ainda mais três episódios de violência física: a ex-cunhada, “M”, (na altura ainda cunhada), atingida por uma garrafa de cerveja, tendo que levar pontos na cabeça. “S” conta que estava no café a beber uma cerveja e que a ex-cunhada se dirigiu a ele e lhe disse para ir para casa cuidar da mulher em vez de estar no bar a beber. O utente refere que não gostou do que ouviu e lhe atirou com a garrafa de cerveja que tinha a mão. O ex-cunhado, “J”, que naquele momento se encontrava no bar, foi em auxílio de “M” sendo também agredido fisicamente por “S”.

O utente conta ainda que deu um pontapé na barriga da avó“…eu não gostava de um tio meu e ele foi lá a casa e eu disse a minha avó para não lhe abrir a porta nem falar com ele mas ela abriu e falou e eu dei-lhe um pontapé (…) depois o INEM foi lá e ela ainda foi ao hospital” (sic). Em todos os episódios foi necessária assistência médica. A relação com a mãe é boa, nunca a agrediu e cita “a coitadinha sofre” (sic). O pai de “S” refere uma relação conflituosa com o filho insistindo na institucionalização do filho, alegando impossibilidade de o cuidar e receios do seu comportamento violento. Esta é a segunda vez que o utente é internado, primeiramente em Nampula (Centro de Saúde Mental S. João de Deus).

IV - História bio-psico-social

“S” é o primeiro de uma fratria de 2 filhos, ambos foram planeados e desejados. Manteve sempre uma boa relação com o irmão. O utente provém de uma família de nível socioeconómico médio. Relativamente à história desenvolvimental e aprendizagens prévias, mais especificamente sobre a gravidez da mãe e o seu parto, o utente não soube responder, nem se recorda de ninguém lhe falar como decorreu. Lembra-se vagamente que em criança (até por volta dos 4 anos de idade) teve problemas ao nível da fala (não tinha um vocabulário muito alargado, não conseguia articular bem as palavras e nem construir frases bem estruturadas) e foi seguido por terapeutas.

Em relação à saúde “S” refere que teve as doenças comuns da infância (varicela, sarampo). Nega doenças crónicas como por exemplo a hipertensão arterial, a diabetes, cardiopatias, doença renal e/ou hepática. Nega alergias, transfusões sanguíneas e cirurgias. Não há história na família de transtornos mentais ou neurológicos. Segundo informações do utente, no que concerne à educação em casa, era e sempre foi o pai quem impingia as regras de uma forma autoritária “não era muito de bater mas gritava bastante”. O utente diz que na sua infância a relação com o seu pai era distante. Caracteriza o pai como arrogante e severo, sentia muita pressão e autoridade por parte dele.

Existiam discussões entre ambos porque o utente não cumpria os horários e as regras, sentia que já era autónomo e que não tinha que dar satisfações a ninguém. O utente caracteriza a mãe como uma pessoa sensível, protetora, afetuosa e cúmplice. “S” apontou na relação entre os progenitores desentendimento e conflitos por causa da educação dos filhos, discussões constantes.

Na sua infância, convivia apenas com um primo, “S” tinha poucos amigos. Refere que sempre se isolou muito, preferia ir para o seu quarto jogar do que estar com colegas da sua turma. Descreve-se como envergonhado. Sentia-se envergonhado com as raparigas, tendo medo da rejeição, que as pessoas não gostassem dele, “eu nunca sabia como começar uma conversa e não desenvolvia muito nas conversas por isso isolava-me, também porque gostava de jogar sozinho” (SIC).

Relativamente à escola refere que sempre teve uma boa relação com os colegas e professores. Contudo no 7ª classe de escolaridade, ano em que reprovou três vezes, o seu comportamento relativo aos colegas altera-se progressivamente, torna-se agressivo, dizendo que se isolava cada vez mais “…as notas eram más porque eu só queria jogar, fechava-me no quarto e jogava. Eu isolava-me muito, devia ser por receio de me criticarem ou gozarem comigo e eu depois enervava-me e batia. Então para não me enervar preferia ficar só. Também nunca tive muito jeito para falar e essas coisas…não gosto e não consigo manter uma conversa, por isso prefiro não falar e afasto-me. Gosto de estar só” (SIC).

Laborou em várias áreas profissionais, tais como, construção civil, jardinagem, tendo sido a sua última actividade (durante 2 anos) na indústria têxtil com grande irregularidade ”quando não me apetecia ir, não ia. Faltava muito, em todos os trabalhos em que estive” (SIC). “S” apresenta uma instabilidade ao nível de pensamento: “não tenho ideias fixas por isso é que não vou para a frente. Gostava de mudar a minha maneira de ser e de pensar, hoje penso uma coisa, amanha já penso noutra”. No entanto acha-se simpático e uma pessoa normal, que quando não consegue fugir das situações conflituosas parte para a agressão O utente sempre viveu com os pais até ao ano 2007, ano em que se casou com uma mulher de origem macua. “S” conta que nunca teve um relacionamento intimo até aos 21 anos, ano em que conheceu uma rapariga macua por quem se apaixonou. Começaram a namorar e recorda que durante o primeiro ano de namoro nunca discutiram, mas, no fim do segundo ano o utente refere que sentia muitos ciúmes da namorada e as discussões eram frequentes, que por duas vezes levaram “S” a agredi-la. Lembra-se que após os seus comportamentos violentos arrependia-se, sentindo-se envergonhado.

Após três anos de namoro decidiram casar. Esteve casado durante, sensivelmente, dois anos (até 2009), não tiveram filhos. Durante o processo de divórcio “S”, sentia-se em baixo, triste, e amargurado. Revoltado por não ter conseguido manter o seu casamento e culpado por ter insultado e batido na mulher durante o casamento. O utente voltou para casa dos pais. Mas, as faltas frequentes ao trabalho, os problemas com o pai, a polícia e o tribunal (devido aos comportamentos agressivos) levaram a que “S” fosse internado. Foi internado voluntariamente dia 24 de agosto de 2011, “prefiro ser internado aqui do que ir para casa, discutir com o meu pai” (sic).

V - Exame do Estado Mental

Aspeto, atitude, actividade: Idade aparente à real, estatura alta. Bem vestido, com sinais de cuidados de higiene (unhas tratadas, penteado, barba desfeita). É colaborante e acessível. Mantém contacto ocular. Vígil, presta atenção ao que lhe é perguntado e responde a estímulos. Humor e emoções: O humor é eutímico. Expressa grande variedade de emoções. Discurso e linguagem: Discurso coerente (linguagem adequada).

Conteúdo, processo do pensamento e percepção: Sem ideação suicida ou homicida. Nega pensamentos persecutórios, alucinações ou delírios. Sem ideias de referência, fuga de ideias ou afrouxamento das associações. Pensamento centrado no seu comportamento agressivo, conflitos com o pai e divórcio.

Insight e juízo crítico: Apresenta um bom juízo crítico (insight).

VI – Avaliação Psicológica

Após a apresentação, e nunca esquecendo durante as sessões iniciais o estabelecimento da aliança terapêutica, iniciou-se a avaliação do(s) problema(s) do utente, começando pela entrevista clínica. Durante o acompanhamento psicológico individualizado foi efetuada uma avaliação onde se aplicaram o Mini-Mental State, as Matrizes de Raven (SPM), o Trail Making Test (TMT) e o Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota - II (MMPI- II). A sua língua materna é o português. “S” demonstrou motivação e interesse para efectuar os testes, embora demonstrasse alguma falta de atenção e de concentração no decorrer do mesmo. Utente orientado auto e alopsiquicamente no tempo e no espaço.

Mini-Mental State = 30/30, ausência de declínio cognitivo.

Matrizes progressivas de Raven – Os resultados obtidos nas Matrizes Progressivas de Raven (SPM) revelam que “S” tem um QI entre 80 e 90 (Grau V - zona fronteiriça), representando uma inteligência normal reduzida no que concerne à inteligência geral não-verbal e raciocínio analógico.

Trail Making Test (TMT) = parte A – 50/40 segundos, parte B=93/90 segundos. Os resultados são indicativos de uma ausência de deterioração nas funções executivas.

Minnesota Multiphasic Personality Inventory (MMPI) – Os resultados do MMPI ao nível das escalas de validade: na escala de Dúvida (?) obteve uma pontuação de zero, o que indica que o utente cooperou na tarefa e que os resultados são válidos, tendo respondido a todos os itens. A pontuação obtida na escala Mentira (L) encontra-se abaixo da média (T=47), indicativo de querer passar uma imagem negativa de si. Teve um score de validade (F) acima da média (T=72), o que pode traduzir severidade da desordem (utentes psicóticos ou com desordem de comportamento). Por fim, no score de correção (K), encontra-se abaixo da média (T=36), verifica-se uma autocrítica severa e/ou uma tentativa de “parecer mal” para criar a impressão de patologia.

Relativamente às Escalas Clínicas, encontram-se elevadas as escalas de Depressão (Dp), (T=68); a Psicopatia (Pd), (T=82); Paranoia (Pa), (T=75); Psicastenia (Pt), (T=76); Esquizofrenia (Sc), (T=76); Hipomania (Ma), (T=69) e a escala Introversão social (SI), (T=78).

No que concerne à Depressão (T=68), a pontuação elevada indica sentimentos de incapacidade. Presença de problemas de natureza ansiosa e falta de competências sociais. A pontuação muito elevada na Psicopatia (T=82) revela uma desordem de personalidade. Pode indicar timidez, dificuldades no controlo dos impulsos, irritabilidade e impulsividade. Apresenta ainda características antissociais, quando estas se manifestam, também a escala Hipomania é elevada (o que se verifica). A Paranoia (T=75) indica desconfiança, hostilidade ou mesmo paranoia (delírio). Relativamente à Psicastenia (T=76) a pontuação muito elevada revela sentimentos de culpa, ansiedade crónica afetada por fatores situacionais.

Na escala de Esquizofrenia (T= 76) as pontuações apontam para pensamentos bizarros, alienação social, relações familiares desajustadas e dificuldade de controlo dos impulsos. Pontuações elevadas podem dever-se a um processo esquizofrénico ou um problema de esquizóide de ajustamento. A Hipomania (T= 69) poderá ser indicador de uma hiperatividade comportamental e cognitiva assim como grandiosidade e irritabilidade. No que concerne à Introversão Social (T= 78), esta escala revela isolamento das relações sociais.

As restantes escalas: Hipocondria (Hs), (T=48), a Histeria de conversação (Hy), (T=50), a Masculinidade – feminilidade (Mf), (T=47) encontram-se dentro da média.

VII- Diagnóstico:

A falta de controlo, ou seja, a incapacidade de resistir aos impulsos agressivos (que resultam em atos agressivos graves) e o remorso, arrependimento e culpabilidade a que o utente vem referindo durante as sessões e comprovado no MMPI, são características essenciais de uma Perturbação do Controlo dos Impulsos mais especificamente a Perturbação Explosiva Intermitente. Ao longo das sessões apresenta ainda características fulcrais para uma Perturbação Evitante da Personalidade. No entanto, o diagnóstico de Esquizofrenia Paranóide não pode ser excluído, pois não ficou clara a sua existência.

Eixo I - Perturbação do Controlo dos Impulsos/ 312.34 Perturbação Explosiva Intermitente

Eixo II - 301.82 Perturbação Evitante da Personalidade

Eixo III - Sem diagnóstico

Eixo IV - Problemas com o grupo de apoio primário (pai) e problemas relacionados com o ambiente social.

VIII - Conceptualização do caso

Não é difícil de perceber, da história bio-psico-social, e do que “S” revelou sobre si, que a sua infância/adolescência possa ter sido algo complicada. A relação conflituosa entre os pais (desentendimento e conflitos por causa da educação dos filhos) é passível de lhe ter transmitido um padrão disfuncional de relação conjugal e amorosa, além de uma vinculação precária (Guedeney & Guedeney, 2004), sobretudo com o progenitor.

A relação com o seu pai era e é bastante distante. “S” refere-se ao pai como sendo muito arrogante e severo, sentia muita pressão e autoridade por parte dele, daí as discussões eram constantes. A relação familiar é um dos grandes pilares, quando esta unidade é ameaçada ou desestruturada, observa-se uma regressão em cada um dos membros do grupo familiar com recurso aos processos defensivos obsoletos (clivagem, denegação, projeção), tornando-se desta forma uma ameaça para “S” no que respeita aos seus desejos de vida autónoma, as suas contestações dos sistemas de ideias parentais, das suas escolhas de objectos novos (Marcelli & Braconnier, 2005).

O comportamento de “S” começou a mudar por volta dos 12 anos de idade quando frequentava a 7ª classe de escolaridade, ano em que reprovou três vezes. O seu comportamento relativo aos colegas altera-se progressivamente, torna-se agressivo e começa a isolar-se cada vez mais. O isolamento nas relações sociais a que “S” se refere ao longo das sessões prende-se ao facto de não gostar que o gozem ou o critiquem, pois quando isso acontecia partia para a agressão. É importante destacar que os estudos indicam que as relações entre colegas, na infância e adolescência, contribuem significativamente para o desenvolvimento do funcionamento interpessoal adequado e proporcionam oportunidades únicas para a aprendizagem de habilidades específicas, que não podem ser obtidas de outra forma, nem em outros momentos (Monjas e Caballo, 2000; Fachada, 2010). As manifestações mais problemáticas do seu comportamento agressivo surgiram por volta dos 18/19 anos de idade, quando “S” começou a trabalhar. O utente sempre pretendeu ser independente financeiramente, ambicionava comprar carro, casa e constituir família. O que “S” mais desejava era sair da casa onde morava com os pais uma vez que a sua relação com a figura paterna era conflituosa.

Quando arranjou o seu primeiro emprego ficou bastante entusiasmado, no entanto, faltava com regularidade ao trabalho, por se encontrar doente (gripes e constipações) ou até mesmo por falta de vontade. E quando aparecia para trabalhar tinha um comportamento impulsivo e agressivo (físico e verbalmente) para os colegas (quando o tentavam aconselhar). Este comportamento manteve-se nos empregos que se seguiram. No seu último emprego, como operário fabril numa indústria têxtil, o utente refere que numa das discussões (cada vez mais frequentes) com outros colegas de trabalho partiu para a agressão. Segundo “S”, foi a primeira vez que agrediu (com bastante gravidade) alguém. Imediatamente após a agressão o utente refere que se sente aliviado, mas, horas mais tarde fica envergonhado e arrependido pelos seus atos. Este parece ter sido o acontecimento de vida que desencadeou no utente o início e desenvolvimento das dificuldades, afetando a sua vida social, familiar e afectiva.

Para além da agressividade exercida contra os colegas de trabalho, “S” também agrediu verbalmente o seu pai, a ex-mulher, o cunhado e cunhada, e a avó. Em todos foi necessária intervenção medica. Menciona ter tido problemas com a polícia e o tribunal. Estes episódios agressivos podem estar associados com sintomas afectivos (irritabilidade ou cólera/ira; aumento da energia; turbilhão de pensamentos e/ou emoções) em que o utente experimenta um grau crescente de tensão ou ativação antes de passar ao ato. Após a sua consumação segue-se o remorso e arrependimento (Gorenstein, Tager, Shapiro, Monk & Sloan, 2007). Todas estas características mencionadas anteriormente, preenchem os critérios para uma Perturbação do Controlo dos Impulsos. Sempre que as coisas não correm como “S” quer este resolve há pancada, mas diz que perante a maior parte dos problemas que lhe surgem, prefere refugiar-se: “sempre fui muito solitário”. E arremata “ ao longo da minha vida só me prejudiquei, eu sou muito fechado, por isso não tenho amigos, já desde pequenino que prefiro ficar sozinho no meu quarto para brincar ou jogar com ninguém”. Nota-se que apresenta isolamento/evitamento em ocupações que envolvam contactos interpessoais. Esta auto-analise feita pelo utente como inepto socialmente e a reserva nas relações íntimas poderão ser um indicativo da Perturbação Evitante da Personalidade. O utente apresenta capacidade de estar ciente de pensamentos, ideias e sentimentos em relação a si próprio (insight), apresenta um sentido crítico muito bom em relação a todos os acontecimentos negativos da sua vida. De forma a compreender melhor o caso de “S”, torna-se oportuno recorrer ao Modelo Generalista de Intervenção Cognitivo-Comportamental de González-Prendes (2007) para explicar a Perturbação Explosiva Intermitente que o utente apresenta. Neste seguimento, Novaco (1997) refere que as emoções básicas, das quais a ira faz parte, existem em todas as culturas e são parte universal da condição humana. A ira, vista como uma emoção negativa, também descrita como fúria, raiva e cólera, tem despertado o interesse da comunidade científica dos últimos anos devido à sua relevância no estudo de comportamentos destrutivos.

Trata-se de um processo complexo caracterizado por sentimentos de culpa e vivências depressivas, com dificuldades associadas à “interiorização”, “exteriorização”, e “controlo”, também descrito como um estado emocional cujos sentimentos variam de intensidade que passam do aborrecimento ao desgosto, ataques de fúria, juntamente com uma ativação do Sistema Nervoso Autónomo (Novaco, 1975).

Para avaliar a ira recorre-se a medidas escalares, análise de comportamentos e medidas psicofisiológicas. Em relação a medidas escalares verifica-se uma ampla utilização do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço (STAXI). A avaliação comportamental da ira baseia-se em medidas recolhidas pelos psicólogos através de técnicas diretas e indiretas, nomeadamente a observação direta. As medias psicofisiologias recorrem ao bio-feedback e dados psicofisiologicos como o batimento cardíaco e a pressão sanguínea (Gorenstein et al. 2007).

IX- Plano de intervenção

Após uma primeira fase de avaliação (Mini-Mental State, as Matrizes de Raven (SPM), o Trail Making Test (TMT) e o Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota - II) e a respetiva conclusão diagnóstica segue-se o plano interventivo. A intervenção elaborada e aplicada ao utente segue o Modelo de Intervenção Cognitivo-Comportamental, isto por ser um dos melhores modelos explicativos das perturbações explosivas intermitentes, uma vez que esta terapia coloca a tónica no reforço e na eficácia pessoal, o terapeuta procura aumentar a autoconfiança dos utentes, os objectivos terapêuticos são claramente definidos, tal como os meios utilizados para os avaliar, sendo que a avaliação regular dos pregressos permite ajustar o tratamento à medida que ocorre, entre outros aspetos importantes da terapia (González-Prendes, 2007).

Durante as sessões, visto que este reside numa instituição com vários utentes, importa esclarecer as regras da instituição, e como cumpri-las. Ensinar o utente a viver em comunidade e a integrar-se neste meio. É importante salientar que em cada sessão foi pedido ao utente um feedback da informação que lhe foi dada, de forma que o terapeuta perceba se o utente fez uma interpretação adequada da informação, assim como um sumário dos tópicos mais significativos que foram discutidos. Estes sumários não só ajudam a educar o utente, como ajudam o terapeuta a perceber com exatidão os problemas do utente (Clark & Salkovskis, 1987 cit. In Goiveia, Carvalho & Fonseca, 2004).

Após as sessões destinadas à avaliação (sessões 1 a 5) identificaram-se as queixas principais e especificas de “S”, explicação e discussão relativamente ao seu problema, ajudando-o a desenvolver um entendimento conceptual da ira (ataques de fúria), aumentando a sua perceção sobre o papel, impactos dos pensamentos e crenças nas respostas emocionais e comportamentais (sessão 6). Seguidamente verificou-se as expectativas do utente face ao tratamento, de forma a delinear um programa de intervenção eficaz.

Nas sessões seguintes (sessões 7 a 11), pretendeu-se apoiar o utente na aquisição de competência cognitivas e comportamentais no sentido de lidar com a ira de forma positiva/adaptativa. Através da restruturação cognitiva (Greenberg & Padesky, 1999; Kessler, Coccaro, Fava, Jaeger, Jin, & Walters, 2006), trabalhou-se com o utente a importância das tarefas na instituição; as crenças automáticas associadas ao diagnóstico; registo de pensamentos disfuncionais: identificação de pensamentos automáticos (rejeição e critica), sentimento (raiva) e comportamentos agressivos (bater, gritar).

Seguiu-se o treino de competências sociais (sessões 12 e 13): restruturação de crenças sobre incapacidade interpessoal e autocontrole das emoções (iniciar uma conversa sem manipulação e termina-la sem se exaltar); pensamentos dicotómicos do tipo “tudo ou nada” e ensaio comportamental (role-play).

Para finalizar e como o utente apresentava Perturbação Evitante da Personalidade interveio-se através de estratégias como o treino de assertividade (comunicação clara e não-manipuladora, adequação de pedidos de novos comportamentos a outrem, solicitação de favores e expressão de concordância e discordância, expressão de sentimentos positivos e negativos adequadamente). As intervenções em grupo (com exposição gradual) demonstram resultados positivos nesta problemática, no entanto, não foi possível por em prática (Watzlawick, Beavin, Jackson, 2001; Bergeret, 2004; McCloskey, Berman, Noblett & Coccaro, 2006). A “seleção” deste modelo (cognitivo-comportamental) de intervenção deve-se à sua fundamentação e experimentação científica que apesar de não estar amplamente replicado, tem demonstrado ser uma ferramenta válida no tratamento desta perturbação.

X - Reflexão sobre o caso

O utente manteve-se no processo até ao final, tendo por vezes mostrado vontade de desistir, no entanto, finalizou o processo terapêutico o que foi muito gratificante para mim. Na avaliação final foi observada uma diminuição (não muito significativa) das queixas características da Perturbação Explosiva Intermitente redução dos sintomas de inquietação interna, ideação violenta, comportamento agressivo (ataques verbais e físicos) desproporcionais ao ambiente externo; além da remissão da sintomatologia orgânica. O utente referiu que foi a casa no fim-de-semana e gostou “parece que estou mais calmo (sic)”, no entanto, continua a não sair da casa dos pais por vergonha da população e remata “sou um rapaz caseiro (sic)”.

A relação com o seu pai está melhor. Contudo, socialmente sente-se ainda envergonhado e introvertido, mas leva consigo estratégias para lidar com estas situações, espera-se que o utente as ponha em prática. A nível terapêutico segundo o modelo cognitivo-comportamental seria pertinente continuar a trabalhar crenças irracionais (Bergeret, 2004), o treino de competências sociais, treino de relaxamento, exposição e utilizar a restruturação cognitiva sempre que necessário (Caballo, 2003; Coccaro, Postemak, & Zimmerman, 2005).

5. Intervenção em Grupo (Comunicação Assertiva)

A intervenção em grupo tem como principal objectivo ajudar os utentes com esquizofrenia a desenvolver competências comunicacionais assertivas. Tendo em consideração a presença de utentes com quadros de deterioração cognitiva elevada no local de estágio, a intervenção desta temática torna-se uma mais-valia.

O paciente com esquizofrenia apresenta, entre outros, dificuldades de relacionamento interpessoal em virtude principalmente da apresentação de quadros tais como pobreza do discurso, embotamento e isolamento social (Beck, Freeman & Davis, 2005). Neste sentido, a intervenção sobre comunicação assertiva ser muito útil no desenvolvimento de comportamentos adaptativos tendo em vista que o paciente está geralmente exposto num ambiente hostil.

5.1. Estratégias de intervenção e plano de actividades 1ª Sessão – A COMUNICAÇÃO

Nesta primeira sessão estiveram presentes oito dos dez utentes estipulados para participar na intervenção em grupo. Relativamente aos objectivos desta sessão prenderam-se com importância da comunicação interpessoal. Distinguir e identificar os elementos básicos do processo comunicacional e identificar os fatores determinantes da comunicação eficaz na dinamização de grupos e por fim identificar as escolhas pessoais no processo de comunicação.

A sessão teve a duração de 60 minutos aproximadamente. Inicialmente foi dado a conhecer aos utentes o programa, analisando as expectativas e motivações de cada participante (5 minutos). Neste sentido, perguntou-se a cada utente quais as suas expectativas e de seguida pôs-se a questão sobre o que é a comunicação para cada um. Depois de um breve debate, foi exposta através de suporte digital (PowerPoint), a apresentação sobre o conceito e a importância da Comunicação, assim como, os elementos presentes ao longo da comunicação (emissor, mensagem, receptor e resposta ou feedback). Foram ainda questionados sobre a linguagem corporal (o nosso corpo comunica?) (15 minutos). Posteriormente foi introduzida uma dinâmica de grupo, intitulada “o telefone sem fio”: formou-se um círculo, depois foi passada a um dos participantes uma frase. Este deverá passar para aquele que está á sua direita, a mensagem foi transmitida através do ouvido sem que os demais saibam qual é a frase. No final promove-se um debate sobre o que acharam e perceberam da dinâmica (e.g. o que aconteceu com a mensagem do inicio ao fim da actividade? Como este tipo de comunicação interfere nos relacionamentos?) (20 minutos).

A sessão termina com uma actividade intitulada “Fazer aos outros o que gostarias que te fizessem, deve ser o teu lema”: após serem enumeradas algumas dicas para uma boa comunicação, os participantes deverão (oralmente) completar e corrigir algumas frases (e. g. Em vez de dizeres: “Estás sempre a interromper-me!” Diz: “Eu gosto de falar sem ser interrompido”) (20 minutos).

Após o feedback da sessão evidenciou-se por parte dos elementos motivação, interesse e expectantes com a próxima sessão.

2ª Sessão – COMUNICAÇÃO ASSERTIVA

Os objectivos desta sessão prenderam-se com a discursão sobre o conceito de assertividade e a sua influência nos relacionamentos; identificar e desenvolver estilos de comportamento assertivo; aprender a dizer sim, quando se quer dizer sim e a dizer não, quando se quer dizer não e destacaram-se os direitos, deveres e os benefícios do comportamento assertivo para o melhor desempenho pessoal e profissional.

Após uma breve apresentação e discussão sobre o que é a assertividade (20 minutos), passou-se a uma dinâmica de grupo, denominada “Verdadeiro ou Falso”: cada participante retirou de um saco uma frase (e. g. Ser assertivo aumenta o rendimento escolar, profissional…? Devemos fazer as coisas a qualquer preço?), tendo cada um que responder: verdadeiro ou falso. Após todos responderem, voltaram-se a colorar as frases no saco (para que ninguém identifique, caso a resposta esteja errada). De seguida a “animadora” tira uma de cada vez lendo em voz alta para todos (quer a frase quer a resposta) e dá-se início a um debate (30 minutos).

3ª Sessão – TIPOS DE COMUNICAÇÃO/COMPORTAMENTO

O objectivo desta terceira e última sessão visa identificar as características e as consequências dos comportamentos agressivo, passivo e assertivo; reconhecer a importância na prática da assertividade, como forma de melhorar a eficácia da comunicação, aos níveis interpessoal e organizacional; saber usar o autoconhecimento para melhorar o controlo dos comportamentos assertivos e analisar os fatores determinantes, numa situação conflituosa.

Iniciou-se esta sessão com a exposição e discussão dos três tipos de comunicação (assertivo, agressivo e passivo); (20 minutos). Posteriormente seguiu-se uma actividade (resolução de casos com os três tipos de comportamento): foram entregues aos participantes, duas histórias (muito breves), que contêm os três tipos de comunicação. Os participantes, a cada história, deverão responder: O comportamento de Paulo é?, Porquê?, O que diz?, Como diz?, Posição do corpo? Segue-se a correção e discussão (20 minutos). Para finalizar: cada participante escreveu um texto sobre si próprio, tentando identificar em que situações é assertivo, passivo e agressivo, permitindo a cada um uma reflexão sobre o seu comportamento (20 minutos).

No final, desenvolveu-se um pequeno debate entre todos sobre as expectativas finais da intervenção de grupo e da aquisição de aprendizagem de ambas as partes (utentes e terapeuta social estagiário).

5.2. Estratégias de avaliação do processo /resultados

Tendo que qualificar esta experiência basta defini-la como extremamente enriquecedora tanto para mim, como para os utentes, estes tiveram oportunidade de adquirir novos conhecimentos e estarem integrados numa dinâmica diferente da instituição. Foi notável a motivação dos utentes nas três sessões e o feedback por parte dos mesmos foi positivo, mencionaram que foi esclarecedor uma vez que alguns não tinham ideia do que era assertividade, poderão corrigir conceitos errados, ressaltaram que foi uma mais-valia porque possibilitou um crescimento interior e permitiu conhecerem-se a si mesmos e de alguma forma também aos outros.

6.Horario de Serviço do CSM

O decreto 30/2001 regulamenta que a duração semanal dos trabalhos abrangidos pelo diploma, é de 40 horas distribuídas de 2ª a 6ª feira das 7:30 as 15:30 horas sendo horário único interrompido entre as 12 e as 14 horas, por intervalo de descanso de duração não superior de 30 minutos, e para todos efeitos se considera tempo de trabalho. Os serviços de urgência de um horário especial de trabalho de 24 sobre 24 horas de funcionamento.

7.As actividades relativas a Enfermagem

Como um programa que é um guião do funcionamento de qualquer instituição, o hospital não foge da regra tendo traçado as seguintes normas de trabalho: 1- Organizar os utentes de modo que não aja desordem por meio de senha; 2- Requisitar o material necessário para o sector de tratamento dos pacientes; 3- Abrir fichas; 4- Registar dados no livro em cada utente que atende; 5- Fazer estatística diária, semanal, mensal ou até trimestral dos pacientes atendidos. 8.Analise de dados documentais

De acordo com PHILIPS, (1994), apud Ludk & Andre (2003:38) são considerados documentos “ quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano”. Neste capítulo, o grupo teve oportunidade de ler os seguintes documentos: 1-Estatuto Geral dos Funcionários do Estado; 2-Plano semanal de actividades do ano 2015; 3-Mapas estatísticos; 4-Circulares; 5-Estatuto do enfermeiro e; 6-Escalas de serviço.






Conclusão

Ao longo deste relatório pretendeu-se apresentar o caminhado trilhado por mim, durante o Estágio em Psicologia Social. Desta forma, é certo que este resume apenas algumas aprendizagens realizadas, uma vez que, descrever de forma precisa um percurso tão complexo deixa, certamente, muita da potencialidade de diversas aprendizagens adquiridas de fora. Estas aprendizagens são do foro pessoal, havendo dificuldade de exprimi-las e representá-las todas. Porém, tentou-se ter esse facto em conta, tentando exprimir ao máximo as aprendizagens efectuadas.

Apesar da componente teórica ao longo do curso, foi no estágio que tomei consciência da realidade da Prática Social onde esta se revelou indispensável para consciencializar-me da realidade, adquirir conhecimentos e desenvolver competências práticas. Encarar a prática não é um trabalho simples ou fácil, pois a cada dia, a cada sessão, existe uma superação e uma construção de nós próprios enquanto estagiários. É sem dúvida um trabalho que precisa ser lapidado, dedicado e acreditado por aquele que o exercita.








Bibliografia Fontes Orais:

Nome do entrevistado Função que desempenha Local de entrevista Ir. José Paulo Simões Pereira O Director CSM Dr.António Nurmahomed Q.F. Suleman O Director Clinico CSM

CRUZ Paula, Manual de Praticas Pedagógica, Maputo, 2008 DIAS, Hildizina e tal. Manual de Praticas Pedagógicas, Maputo, Edição, 2008 SUSSANE, John.Como fazer um Relatório, Lisboa: Lisboa editora, 2000 LAKATOS, Eva Maria e MANCON de Andrade. Metodologia de Trabalho Cientifico, 4ª edição. São Paulo: editoras Atlas, 1999
















Apendices  Programa do Grupo;






[1]


PROGRAMA DE INTERVENÇÃO EM GRUPO



Estágio Curricular de Licenciatura em Psicologia com habilitação em Psicologia Social Universidade Pedagógica de Moçambique – Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia

COMUNICAÇÃO ASSERTIVA

POPULAÇÃO ALVO: 10 utentes do Centro de Saúde Mental São João de Deus em Nampula.

CALENDARIZAÇÃO:

Inicio da Intervenção: 19 de Maio de 2015

Fim da Intervenção: 01 de Junho de 2015

Periodicidade: 1 sessão diária (50/60 minutos)


CRONOGRAMA:

SESSÃO NR. 1

SESSÃO NR. 2

SESSÃO NR. 3


22 de Maio 10h às 11h 24 de Maio 10h às 11h 01 de Junho 10h às 11h



. OBJECTIVOS GERAIS:

- Promover a participação activa dos pacientes no desenvolvimento de comportamentos assertivos através de jogos educativos.

- Potenciar a capacidade assertiva dos comportamentos de cada participante (individualmente) de forma a facilitar a organização e reflexão colectiva.

- Evidenciar a importância e as consequências de ser assertivo.

- Sensibilizar os participantes para a mudança de atitudes e a transformação de comportamentos;

- Desenvolver nos participantes a habilidade para a comunicação assertiva, capacitando-os para o uso eficaz dos recursos da comunicação verbal e não-verbal.


SESSÃO 1 – COMUNICAÇÃO ASSERTIVA

Tema: COMUNICAÇÃO

Objetivos específicos:

- Importância da comunicação interpessoa l - Distinguir e identificar os elementos básicos do processo comunicacional e identificar os factores determinantes da comunicação eficaz na dinamização de grupos.

- Identificar as escolhas pessoais no processo de comunicação;



Intervenientes:

- Utentes; - Estagiárias de Psicologia, dinamizadoras da acção;

Duração prevista: 60 minutos Material/equipamento:

- Apresentação em Power Point - Papel; - Lápis;

Desenvolvimento

- Apresentação genérica do programa, analisando as expectativas e motivações de cada participante (5 minutos).

- Breve apresentação sobre “comunicação” (15 minutos).

- Dinâmica de grupo: Será formado um círculo, depois será passada a um dos participantes uma frase. Este deverá passar para aquele que está á sua direita, a mensagem deverá ser transmitida através do ouvido sem que os demais saibam qual é a frase. No final promove-se um debate sobre o que acharam e perceberam da dinâmica (e.g. o que aconteceu com a mensagem do inicio ao fim da actividade? Como esta comunicação interfere nos relacionamentos?) (20 minutos).

- Actividade (Fazer aos outros o que gostarias que te fizessem, deve ser o teu lema): Após serem enumeradas algumas dicas para uma boa comunicação, os participantes deverão (oralmente) completar e corrigir algumas frases (e. g. Em vez de dizeres: “Estás sempre a interromper-me!” Diz… “Eu gosto de falar sem ser interrompido”) (20 minutos).

  1. Relatorio do Estagio em Psicologia Social Caso: Centro de Saude Mental Sao Joao de Deus em Nampula ano 2015