Paixão segundo G.H., A
Aspeto
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A paixão segundo G.H. é um livro escrito por Clarice Lispector; o enredo trata de uma mulher identificada apenas pelas iniciais G.H., que - depois de demitir a empregada e tentar limpar o quarto desta - relata a perda da individualidade após ter esmagado uma barata na porta de um guarda-roupa.
- "É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
- (pg. 10, Editora Rocco)
- "... quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."
- (pg. 11, Editora Rocco)
- "Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido."
- (pg. 11, Editora Rocco)
- "Eu substituirei o destino pela probabilidade."
- (pg. 11, Editora Rocco)
- "... receio começar a "fazer" um sentido, com a mesma mansa loucura que até ontem era o meu modo sadio de caber num sistema."
- (pg. 13, Editora Rocco)
- "Antes, sempre que eu havia tentado, meus limites me davam uma sensação física de incômodo, em mim qualquer começo de pensamento esbarra logo com a testa."
- (pg. 13, Editora Rocco)
- "Toda compreensão súbita se parece muito com uma aguda incompreensão."
- (pg. 14, Editora Rocco)
- "Não quero que me seja explicado o que de novo precisaria da validação humana para ser interpretado."
- (pg. 15, Editora Rocco)
- "... não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim..."
- (pg. 17, Editora Rocco)
- "Quanto eu devia ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética..."
- (pg. 19, Editora Rocco)
- "Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir."
- (pg. 19, Editora Rocco)
- "A deseroização é o grande fracasso de uma vida. Nem todos chegam a fracassar porque é tão trabalhoso, é preciso antes subir penosamente até enfim atingir a altura de poder cair - só posso alcançar a despersonalidade da mudez se eu antes tiver construído toda uma voz."
- (pg. 175, Editora Rocco)
- "Ah, mas para se chegar à mudez que grande esforço da voz."
- (pg. 175, Editora Rocco)
- "Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, era. Até ao fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois "eu" é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo.
- Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano.
- E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só me posso agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real."
- (pg. 178/179), Editora Rocco)