Tony Duvert

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Tony Duvert
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Tony Duvert (Villeneuve-le-Roi, França, 2 de julho de 1945; Thoré-la-Rochette, França, 2008) foi um escritor francês, autor de romances e ensaios. Os temas principais da sua obra são a pedofilia, a infância, a crítica à família e a crítica à educação sexual na sociedade burguesa moderna. Em 1973 ganhou o Prêmio Médicis com o romance Paysage de fantaisie.


O sexo bem comportado (1973)[editar]

NOTA: A tradução das citações incluídas nessa seção é própria de Wikiquote e não corresponde necessariamente com a edição portuguesa da obra.

  • Só falta uma sexologia «revolucionária»; talvez porque se confunde ainda um sistema científico da sexualidade com a defesa de uma determinada ordem moral, enquanto para um pensamento contestatário não há nenhum modelo de ordem que propor, mas uns tipos de ordem com os quais acabar; e, onde o conhecimento burguês vê mandatos da «Natureza», o outro denuncia as leis inqualificáveis com que a oprime uma parte da humanidade. A sexologia constrói uma pirâmide de fenômenos sexuais. [...] Todas as condutas sexuais são avaliadas de fato como «técnicas de gestão», umas aberrantes (dilapidam o capital pulsional), e as otras recomendáveis (fazem frutificar com ortodoxia a corporeidade do sujeito). Dessa maneira, a sexualidade é entendida em função de um único critério: a sua rentabilidade. Nisso, a sexologia copia ao mesmo tempo os valores da moral burguesa e os que servem para medir a saúde de uma empresa capitalista. Esse método de valorização rejeita a noção de gozo gratuito (e, por não poder negá-lo, o estigmatiza moralmente).
Il manque seulement une sexologie « révolutionnaire » ; peut-être parce qu'un système scientifique de la sexualité se confond toujours avec la défense d'un ordre moral précis, tandis qu'une pensée contestatrice n'a pas de modèle d'ordre à proposer, mais des formes d'ordre à abattre ; et, là où le savoir bourgeois voit des commandements de la « Nature », elle dénonce les lois inqualifiables qu'une part de l'humanité fait peser sur elle. La sexologie construit une pyramide des phénomènes sexuels. [...] Toutes les conduites sexuelles sont en effet évaluées comme « techniques de gestion », les unes aberrantes (elles dilapident le capital pulsionnel), les autres recommandables (elles font fructifier avec orthodoxie la corporéité du sujet). La sexualité est ainsi comprise en fonction d'un seul critère : sa rentabilité. En cela, la sexologie copie à la fois les valeurs de la morale bourgeoise et celles qui servent à mesurer la santé d'une entreprise capitaliste. Ce mode d'appréciation refuse la notion de jouissance gratuite (et, faute de pouvoir la nier, il la stigmatise moralement).
Pág. 21-22
  • À criança, privada de toda autonomia social, de toda relação espontânea com os outros, enfraquecida, submetida, conformada com um pai, uma mãe, uma televisão idiotizante e uma escola alienante, proporciona-se-lhe uma «iniciação» que lhe descreve a sexualidade dos adultos e censura ou ridiculiza o seu próprio erotismo.
À l’enfant, privé de toute autonomie sociale, de toute relation spontanée à autrui, diminué, soumis, rabattu sur un père, une mère, une télévision crétinisante et une école aliénatrice, on produit une « initiation » qui lui décrit la sexualité des grandes personnes et censure ou ridiculise son érotisme propre.
Pág. 24
  • A informação sexual da criança de 10/13 anos não representa nenhum problema para quem faz amor com ela. Com efeito, são muitas as crianças que escondem à sua família o interesse que sentem pelas coisas do corpo. A criança não manifesta mais nenhuma curiosidade pelas bobeiras ginecológicas dos seus pais: é o prazer o que lhe interessa em exclusiva, e tem aprendido que não deve jactar-se disso. Na realidade, durante esse período, o seu desejo se tem reafirmado, se tem concentrado, e tem tomado consciência das proibições externas. A criança trata de satisfazer-se apesar do trabalho escolar, e muitas vezes graças aos amigos e às suas aprendizagens secretas, quanto ao demais estimulantes: punhetas, revistinhas, palavras obscenas, voyeurismo, fodas de cu, buracos femininos, etc… O diálogo entre os pais e a criança constitui um esforço solapado por consolidar as disposições repressivas que ela sofreu por parte deles desde a sua primeira infância, e das quais tende a emancipar-se. A vergonha, o pudor e a timidez ajudam-a um pouco a proteger-se das agressões paternas. O seu problema fundamental é, com efeito, a dominação imediata e o controle incessante com que a oprimem os adultos. Portanto, a criança de 10/13 anos tem tanta sexualidade quanto pode, e ainda que em diante a dissimule cuidadosamente ante os familiares, muitas vezes está à disposição de inúmeras aventuras clandestinas, seja qual for sua cor.
L'information sexuelle de l'enfant de 10/13 ans ne pose aucun problème pour qui fait l'amour avec lui. De très nombreux enfants cachent en effet à leur famille l'intérêt qu'ils portent aux choses du corps. L'enfant ne manifeste plus aucune curiosité pour les radotages gynécologiques de ses parents : c'est le plaisir qui l'intéresse exclusivement, et il a appris qu'il ne faut pas s'en vanter. En réalité, au cours de cette période, son désir s'est affirmé, concentré, et a pris la mesure des interdits extérieurs. Il cherche à s'assouvir en dépit du travail scolaire, et fréquemment grâce à la camaraderie et à ses apprentissages secrets, sinon exaltant : branlage, petits journaux, mots obscènes, voyeurisme, enculades, trou des dames, etc… Le dialogue entre les parents et l'enfant constitue un effort sournois pour consolider les aménagements répressifs qu'il avait subis de leur part dès sa petite enfance, et dont il tend à s'émanciper. La honte, la pudeur, la timidité l'aident un peu à se protéger des agressions parentales. Son problème essentiel, en effet, c'est la domination immédiate et le contrôle incessant que l'adulte fait peser sur lui. L'enfant de 10/13 ans a donc autant de sexualité qu'il le peut et si, désormais, il la dissimule soigneusement à ses proches, il est souvent à la disposition de beaucoup d'aventures clandestines, quelle que soit leur couleur.
Pág. 38
  • [T]odo homem nasce culpável, somente sonha com a morte e o incesto [...] falando do [conflito de] Édipo como se fosse um fenômeno «instintivo» e fatal, legitima-se esse pequeno horror sociocultural que é a família ocidental moderna, um canibalismo psicosexual entre três ou quatro famintos imobilizados no mesmo saco.
[C]haque homme naît coupable, ne rêve que meurtre et inceste [...] en racontant l’Œdipe comme si c’était un phénomène « instinctif » et fatal, on légitime cette petite horreur socioculturelle qu’est la famille occidentale moderne — un cannibalisme psycho-sexuel entre trois ou quatre affamés ficelés dans le même sac.
Pág. 63
  • [N]o seio de uma modernidade tão amável, anunciar a uma criança que, se comete tal ou qual ato, se arrisca a não ser mais adiante como todo o mundo, é de fato amenaçá-la com a pena capital.
[A]u sein d’une modernité si aimable, annoncer à un enfant que, s’il commet tel ou tel acte, il risque, plus tard, de n’être pas comme toute le monde, c’est réellement le menacer de la peine capitale.
Pág. 82
  • A iniciação sexual pratica duas classes de desvios: o libidinal e o lingüístico. Compreender por que masturbar-se é a palavra "exata" para falar de bater a punheta é descobrir como a medicina burguesa opõe sua própria linguagem de classe «à língua popular da sexualidade», língua escandalosa porque erotiza os fenômenos designados, enquanto a linguagem científica os gela.
Pág. ?
  • A mamãe, com um bonito pegnoir, com mãos compridas e suaves e de unhas feitas, como num comercial de detergente, dá o peito ao seu bebê.
Maman en joli déshabillé, avec de longues et douces mains aux ongles faits, comme dans une réclame de produit à vaisselle, donne le sein à son bébé.
Pág. ?
  • A proibição que açoita a pederastia é um simples corolário daqueles que, em nós, condenam por uma parte a homossexualidade e, por outra parte, a sexualidade dos menores.
L'interdit qui frappe la pédérastie est un simple corollaire de ceux qui, chez nous, condamnent d'une part l'homosexualité et, d'autre part, la sexualité des mineurs.
Pág. ?
  • Convém reiterar que entre crianças púberes e impúberes não há nenhuma diferença de aptitude para o prazer. Só mudam, mais ou menos, os atos de prazer, os seus códigos, os seus papéis, a sua socialização.
Il est bon de redire qu'entre enfants pubères et impubères il n'y a aucune différence d'aptitude au plaisir ; seuls changent, plus ou moins, les actes de plaisir, leurs codes, leurs rôles, leur socialisation.
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  • Estranha predestinação? Signo do céu? O parágrafo do artigo 331 que equipara a um crime o amor aos menores de quinze anos é do dia 2 de julho de 1945. É a minha data de nascimento. Ninguém houvesse podido vir ao mundo pedófilo sob melhores auspícios. Isso avala toda a astrologia.
Étrange prédestination, signe du ciel ? L’alinéa de l’article 331 qui assimile à un crime l’amour des moins de quinze ans est du 2 juillet 1945. C’est ma date de naissance. Nul n'aurait pu venir au monde pédophile sous de meilleurs auspices. Cela vaut toute l’astrologie.
Pág. ?
  • O verdadeiro prazer recompensa a dignidade moral e a ortodoxia biológica. O orgasmo é uma carícia de diretor sobre o crânio febril do melhor aluno da classe.
Le vrai plaisir récom pense la dignité morale et l'orthodoxie biologique; l'orgasme, c'est une caresse de directeur sur le crâne fébrile du meilleur élève de la classe.
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  • O direito institucional a «falar de sexualidade» serve para esmagar uma sexualidade condenada ao silêncio. Todo discurso científico exclusivo sobre o sexo implica que o sexo está censurado. Fala-se de sexo à criança e ao adolescente após ter-lhe negado todo direito sexual. Essa sexualidade roubada lhe é restituída ao menor sob a forma de um discurso normativo e teórico.
Pág. ?
  • Se essa liberdade não fosse uma farsa, um aparelho de hiper-repressão bem lubricado, em vez disso teriamos um diálogo como:
Jean: – É proibida a masturbação?
Papai: – Claro que não, não é proibida. Depois de tanto tempo batendo a punheta já o devias saber.
Jean: – Sim, mas na minha classe há caras que dizem que é ruim.
Papai: – Isso é culpa dos seus pais, que lhes dizem bobagens. Essas crianças não são felizes.
Si cette liberté-là n’était pas un simulacre, un appareil d’hyperrépression bien vaseliné, on aurait plutôt un dialogue comme :
Jean : – C’est interdit, la masturbation ?
Papa : – Mais non, ce n’est pas interdit. Depuis le temps que tu te branles, tu devrais le savoir.
Jean : – Oui, mais il y a des types dans ma classe qui disent que c’est mal.
Papa : – C’est à cause de leurs parents, qui leur "racontent n’importe quoi". Ces enfants-là sont malheureux.
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  • Vemos, portanto, como é restabelecida a proibição da masturbação: bater a punheta não é mais perigoso fisicamente nem um vício (…) Mas é mil vezes pior: um torna-se um inepto para o amor, um infeliz, um solitário, um desviado – um pária. (…) Portanto, encontramos no discurso educativo uma proibição que funciona já não através de uma ameaça de castigo direto, mas através da chantagem em torno à "felicidade".
On voit donc comment est restauré l’interdit contre la masturbation : se branler n’est plus ni dangereux physiquement ni vicieux (…) Mais c’est mille fois pire : on devient un inapte en amour, un malheureux, un solitaire, un déviant – un paria. (…) Voilà donc, dans le discours éducateur, un interdit qui fonctionne non plus par une menace de punition directe, mais par chantage au "bonheur".
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Journal d'un innocent (1976)[editar]

("Diário de um inocente")

  • Quando o racemo é grande, é porque se rega a parreira. Ou dito de outra forma: se tens muito diante, é porque te metem muito detrás. É essa uma bonita maneira de dar uma lição aos supermachos pretenciosos; mas também nos recorda algo que nos ensinaram a não aproveitar: a unidade da porra e o cu. Essa região, como todos sabemos, é de uma só peça. O pênis não é um pedaço de carne que sobressai, mas um tubo longo sobre o qual cavalgamos. Começa no ânus e acaba na glande; tem um pequeno buraco num lado e um grande buraco no outro. Todas as conexões imagináveis (musculares, nervosas, espaciais) unem a cavidade retal ao pênis e fazem dela o interior dele. Raiz do membro e orifício do oco são um único membro, o ânus. Dessa forma a natureza, mais astuta que aqueles que se prevalecem dela para impor a sua ordem de coisas, deu aos garotos dois sexos em um.
Quand la grappe est belle c’est qu’on arrose la vigne. Autrement dit: si tu en a beaucoup devant, c’est qu’on t’en met beaucoup derrière. Cette façon de moucher les surmâles prétentieux est jolie; mais elle rappelle aussi une chose que nous sommes instruits à ne pas exploiter: l’unité de la pine et du cul. Cette région, comme chacun sait, est d’un seul tenant; la bite n’est pas un morceau de chair isolé qui dépasse, mais un long tuyau qu’on chevauche; il commence à l’anus et fini au bout du noeud, il a un petit trou d’un coté, un grand trou de l’autre. Toutes les connexions imaginables (musculaires, nerveuses, spatiale) relient la cavité rectale au pénis et font d’elle son intérieur à lui. Racine du membre et orifice du creux sont un membre unique, l’anus. Ainsi la nature, plus malicieuse que ceux qui se réclame d’elle pour imposer leur ordre des choses, a donné aux garçons deux sexes en un seul.
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  • A felicidade é um sonho eterno. Nada mais legítimo do que a proteger dos doentes afetados de insônia.
Le bonheur, quant à lui, est un sommeil éternel. Rien de plus légitime que de le protéger contre les malades atteints d'insomnie.
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  • O adulto é somente a forma que a criança está obrigada a adotar para reproduzir-se. E se a saúde faz com que em lugar de morrermos poucos anos depois ter caído no estado adulto, vivamos nele muito mais tempo, devemos esquecer onde se encontra a plenitude das perfeições humanas: inteligência, liberdade, imaginação, sociabilidade, espírito comunitário, alegria, bondade, coragem, espontaneidade, generosidade, doçura, perspicacia, riqueza afetiva, solidariedade, lealdade, beleza, etc.: é dizer, na infância.
L'adulte est seulement la forme que l'enfant est contraint d'adopter pour se reproduire. Et si l'hygiène fait que au lieu de mourir peu d'années après être tombés dans l'état adulte, nous y vivons beaucoup plus longtemps, nous devons oublier où se trouve le comble des perfections humaines : intelligence, liberté, invention, sociabilité, esprit communautaire, gaieté, bonté, courage, spontanéité, générosité, douceur, malice, richesse affective, solidarité, loyauté, beauté, etc. : à savoir dans l'enfance.
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  • Só falam em nome dos homens aqueles que poderiam apontar um fuzil sobre eles.
Seuls parlent au nom des hommes ceux qui pourraient pointer un fusil sur eux.
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L'Enfant au masculin (1980)[editar]

("A criança em masculino")

  • Lewis Carroll, filho primogênito, teve um pai, uma mãe, dois irmãos e oito irmãs. Aquela família de treze pessoas faz-me sonhar. Admiro o ventre da senhora Dogson. Era algo muito diferente das mães de hoje, que sempre têm «o Menino» na boca, mas que apenas dão à luz um vírgula oito em toda sua vida. É pelo fato de terem tão poucos que elas os sacralizaram?
A mim, como pedófilo, reprocham-me que tenho inveja do ventre das mulheres. E é verdade. Vocês acreditam que se eu tivesse útero iria me contentar com ter um menino vírgula oito? A senhora Dogson, pelo menos, sabia o que significa ser mãe. Eu teria sido uma mãe assim.
Fils aîné, Lewis Carroll eut un père, une mère, deux frères et huit sœurs. Cette famille de treize personnes me fait rêver. J'admire l'utérus de madame Dogson. C'est autre chose que les mères d'aujourd'hui, qui n'ont que « l'Enfant » à la bouche mais qui en pondent à peine un virgule huit dans leur vie. Est-ce parce qu'elles en font si peu qu'elles les ont sacralisés ?
A moi, pédophile, on me reproche d'être jaloux de l'utérus des dames. C'est vrai. Croyez-vous que si j'en avais un je me contenterais de pondre un enfant virgule huit? Madame Dogson, au moins, savait ce que mère veut dire. J'aurais été une mère pareille.
Pág. 10
  • [O] pedófilo nubla os valores parentais: entre o rebanho, entre o gado, entre as crianças normais, ele descobre os milagres humanos.
[L]e pédophile brouille les valeurs parentales : dans le troupeau, le bétail, des enfants ordinaires, il décèle les miracles humains.
Pág. 12-14
  • [A] minha pedofilia concentra-se nos meninos impúberes. Mas quando é que começa a impuberdade? Os bebês não me atraem ainda; gosto loucamente dos pequenos de dois a três anos, mas essa paixão foi sempre platônica; nunca fiz amor com nenhuma criança menor de seis anos e, ainda que sinto essa falta de experiência, na realidade não me causa muita frustração. Por contra, aos seis anos, o fruto me parece maduro: é um homem e nada lhe falta. É então quando deveria começar a maioridade. Lá chegaremos.
[M]a pédophilie, donc, s'intéresse aux garçons impubères. Mais quand commence l'impuberté ? Les bébés ne m'attirent pas encore ; les petits de deux à trois ans me plaisent à la folie, mais cette passion est restée platonique ; je n'ai jamais fait l'amour avec un garçon de moins de six ans et ce défaut d'expérience, s'il me navre, ne me frustre pas vraiment. Par contre, à six ans, le fruit me paraît mur : c'est un homme et il n'y manque rien. Cela devrait être l'âge de la majorité civile. On y viendra.
Pág. 18-21
  • Onde é que acaba a pederastia e onde é que começa a homossexualidade? É difícil de precisar. Essa nova divisão não tem mais sentido do que a outra: não é mais que uma elaboração do Código penal.
Où s'arrête la pédérastie, et où commence l'homosexualité pure et simple ? Difficile à déterminer. Cette nouvelle division n'as pas plus de sens que l'autre: elle n'est qu'un effet du Code pénal.
Pág. 21
  • Os pedófilos reclamam o direito a viver em liberdade o amor que lhes concede uma criança, e a desfrutar livremente os prazeres amorosos, mesmo passageiros, com que eles descobriram que um menino e um homem ficam felizes como diabos.
Les pédophiles réclament le droit de vivre librement l'amour qu'un enfant leur accorde, et de goûter librement les plaisirs amoureux, mêmes passagers, où ils ont découvert qu'un garçon et un homme se rendent heureux comme des diables.
Pág. 38
  • Que ingenuidade a daqueles que se perguntam como e por quê se «tornaram» homófilos.
A questão teria algum sentido se a sexualidad, na espécie humana, respondesse a um programa biológico determinado. Um se «tornaria» heterossexual da mesma forma que alcança a puberdade ou a senectude, se torna alto ou fica gordo. As «perversões» seriam tão raras como os bebês de seis pernas.
Porém não existe nada parecido com isso. A nossa sexualidade nasce sem objeto, bem como a nossa capacidade para falar é a princípio sem linguagem. Abandonemos um recém-nascido numa ilha desierta, durante vinte anos, junto a umas cabras que o amamentem. Longe de reinventar a língua francesa e de fantasiar com Marylin, ela balará, pulará, se adaptará às suas babás com cavanhaque e com chifres e nos mandará pro inferno com nossas estúpidas manias sobre o inato.
Que estupefação! Parece que uma grande maioria das crianças nascidas sob a heterocracia francesa falam francês e são heterossexuais! Cabe perguntar-se onde é que elas foram procurar isso. Na «Natureza», talvez.
Candeur de ceux qui se demandent comment et pourquoi ils sont «devenus» homophiles.
La question aurait un sens si le sexe, dans l'espèce humaine, répondait à un programme biologique précis. On «deviendrait» hétéro comme on devient pubère, sénescent, grand ou gros. Les «perversions» seraient aussi rares que les bébés à six pattes.
Rien de semblable n'existe. Notre sexe naît sans objet, comme notre aptitude à parler est d'abord sans langage. Abandonnez un nouveau-né sur une île déserte, pendant vingt ans, avec des chèvres pour le nourrir. Loin de réinventer la langue française et de fantasmer sur Marilyn, il chevrotera, capricant, épousera ses nourrices à barbiche et à cornes – et il vous renverra, vous et vos idées stupides d'innéité, vous faire embouquer ailleurs.
Quelle stupéfaction ! Il paraît qu'une nette majorité des garçons nés en hétérocratie française parlent français et sont hétéro ! On se demande où ils sont allés chercher ça. La «Nature», sans doute.
Pág. 93-94
  • [T]odo ser é fundamentalmente bissexual, e depois a educação, ou as inibiçoes pessoais, lhe mutilam uma parte de suas possibilidades. Há portanto duas «más» sexualidades: heterossexuais ou homossexuales exclusivos; e uma sexualidade «boa» e «verdadeira», a bissexualidade. Há que tornar-se (ou melhor dito, continuar sendo) bissexuais.
[T]out être est fondamentalement bisexuel, puis l'éducation, ou les inhibitions personnelles, le mutilent d'une part de ses virtualités. On a dès lors deux « mauvaises » sexualités : hétéros ou homos exclusives ; et une sexualité «bonne» et «vraie», la bisexualité. Il faut devenir (ou plutôt, rester) bisexuel.
Pág. 95
  • [A] liberdade para sair de uma situação para a qual haviamos consentido é, claramente, a garantia necessária e suficiente do valor do consentimento em si mesmo. Não há necessidade de discutir sobre a «capacidade» (do menor em particular) de alguém para consentir ou não com conhecimento de causa: sempre estamos capacitados, mesmo quando bebês, para distinguir entre o que gostamos e o que nos desgosta, e para expressar essa valoração.
[La] liberté de s'extraire d'une situation à laquelle on avait consenti est, c'est l'évidence, la garantie nécessaire et suffisante de la valeur du consentement lui-même. Il n' a pas à ergoter sur l'«aptitude» (du mineur en particulier) de quelqu'un à consentir ou non en connaissance de cause : on est toujours apte, même nourrisson, à apprécier ce qui nous plaît ou vous déplaît, et à exprimer cette appréciation.
Pág. 112
  • Dedico esta lembrança aos sacanas que hoje me pregam o «respeito» ao menor. Moralistas cegos, eu fui esse menor e sofri esse respeito. Reconhecer-vos-ei, violadores, seja qual for o disfarce que ponhais: essa voz nunca se esquece.
Je dédie ce souvenir aux salauds qui me prêchent aujourd'hui le «respect» du mineur. Moralistes borgnes, j'ai été ce mineur et je l'ai subi, ce respect. Moralistes borgnes, j'ai été ce mineur et je l'ai subi, ce respect. Je vous reconnaîtrai, violeurs, sous tous les déguisements que vous pourrez prendre : cette voix-là ne s'oublie jamais.
Pág. ?
  • A liberdade sexual não consiste em elaborar e difundir um «bom» padrão de desejo, mas ao contrário, em suprimir qualquer padrão. Não se trata de um dever de emancipar-se de maneira individual («liberai e expandi a vossa sexualidade!...»), mas de um conjunto de liberdades públicas. Sustenta-se —deliberadamente?— uma confusão entre ambos os conceitos, e nos regam com receitas individuais de felicidade sexual onde o problema é institucional, jurídico e cultural. Querem ditar-nos novas regulações onde a liberdade implica a eliminação de qualquer regra.
[...] A liberdade amorosa só se obtem no momento em que nenhuma forma de sexualidade tem o poder de imperar sobre as outras nem de modelá-las a sua imagem: e falo aqui do império do Estado, e não dos encantos aos quais temos o gosto de sucumbir.
O objetivo da liberação sexual não é que todo o mundo faça ou possa fazer amor com todo o mundo: mas que o Estado, as suas estruturas, as suas leis se abstenham de qualquer controle sobre a vida privada, quaisquer que sejam a idade, o sexo, os gostos que um tenha. As sexualidades não são da competência da moral pública: esse é o único princípio que deve ser estabelecido. Estamos, bem o sei, a anos luz dessa liberdade; e duvido que a vejamos nunca.
Por outro lado, as relações sexuais não precisam de nenhuma moral específica. Os princípios que regem nossas outras interações, nossa coexistência, e que definem os limites das liberdades de cada um, são mais do que suficientes para governar os atos amorosos.
Nem violência, nem coação, nem dominação, nem posse sobre os outros: esses são os únicos deveres aos quais nossos atos sexuais, como o resto dos nossos atos, devem cingir-se.
La liberté sexuelle ne consiste pas dans l’élaboration et la diffusion d’un « bon » standard de désir, mais au contraire dans la suppression de tout standard. Il ne s'agit pas d'un devoir d'émancipation personnelle (« libérez, épanouissez votre sexe !... ») mais d'un ensemble de libertés publiques. On entretient — délibérément ? — une confusion entre les deux notions, et on nous arrose de recettes individuelles de bonheur sexuel là où le problème est d'institutions, de droit et de culture. On veut nous dicter de nouvelles normalisations là où la liberté implique l'abolition de toutes normes.
[...] La liberté en amour n'est [pas] acquise qu'au moment où aucune forme de sexualité n'a le pouvoir de régner sur les autres et de les modeler à son image : et je parle ici du règne par l'État, et non des séductions auxquelles on a plaisir à succomber.
Le but de la libération sexuelle n'est pas que tout le monde fasse ou puisse faire l'amour avec tout le monde : mais que l’État, ses structures, ses lois s'interdisent tout regard sur les vies privées, quelque âge, quelque sexe, quelques goûts que l'on ait. Les sexualités ne sont pas du ressort de la morale publique : voilà le seul principe qu'il s'agit d'instaurer. Nous sommes, je le sais bien, à des années-lumière de cette liberté-là ; je doute si nous la connaîtrons jamais.
Par ailleurs, les relations sexuelles n’ont besoin d’aucune morale spécifique. Les principes qui régissent nos autres interactions, notre coexistence, et qui définissent les limites des libertés de chacun, suffisent absolument à gouverner les actes amoureux.
Ni violence, ni contrainte, ni domination, ni propriété sur autrui : voilà les seuls devoirs auxquels nos actes sexuels, comme tous nos autres actes, ont à se plier.
Pág. ?
  • Teve de esperar até os doze anos para ser por fim sodomizado de importância: muitos meninos aos quais lho entregava picotavam-me o ânus atenciosamente, mas isso não apagava o fogo interno que atiçavam em mim os grandes membros que aqui e ali masturbava. Era necessária uma violação. Da qual eu fosse o autor, evidentemente. A vítima foi um adolescente de quinze ou dezesseis anos que se masturbava comigo às vezes. Como me custou convencer aquele abestalhado de grande porra para que me subisse acima!
Je dus attendre jusqu'à douze ans pour être enfin sodomisé d'importance : bien des gamins, à qui je le rendais, me picoraient attentivement l'anus, mais cela n'éteignait pas le feu intérieur qu'attisaient en moi les grands membres qu'ici et là je masturbais. Il fallut un viol. Dont je fus l'auteur, évidemment. La victime était un adolescent de quinze ou seize ans qui se masturbait avec moi quelquefois. Quels efforts pour convaincre ce nigaud à belle verge de me monter dessus !
Pág. ?

Abécédaire malveillant (1980)[editar]

(«Abecedário malévolo»)

ABJET (abjeto)

  • Muitos são os processos que revelam não tanto as faltas do acusado quanto a abjeção dos magistrados.
Nombreux les procès qui révèlent moins les fautes de l’accusé que l’abjection des magistrats.

AIMER (amar)

  • Ama-me significa, noutras palavras, que ele aceita que eu o capture, o domestique, o viole, o mate e o enterre.
Il m'aime signifie en clair: il accepte que je le capture, l'apprivoise, et le viole, et le tue, et l'enterre.

AMBITION (ambição)

  • Imitar apenas o inimitável.

ARGENT (dinheiro)

  • Tenho uma tendência terrível a pedir dinheiro a qualquer um que me falar bem de mim.
J'ai une terrible tendance à demander de l'argent à quiconque me dit du bien de moi.

AU DELÀ (além)

  • O paraíso dos cristãos seria um inferno para mim. Por isso, se o seu insuportável deus existe, me condenará a permanecer junto a ele.
Le paradis des chrétiens me serait un enfer. Si leur insupportable dieu existe, il me condamnera donc à rester près de lui.

AVANCE (avanço)

  • Se você é um adiantado ao seu tempo, amanhã por fim o adoraram os idiotas.
Si tu es en avance sur ton temps, demain enfin les imbéciles t'aimeront.

AVORTEMENT (aborto)

  • Os padres não engendram crianças: eles ordenam que você engendre para eles. Porque a pílula e o aborto legal esvaziaram os seminários.
Antigamente, nas famílias numerosas sempre havia algum faminto, algum aleijado ou algum cretino. Os padres o levavam e a Igreja prosperava. Hoje em dia, as pessoas já não têm bastantes filhos para jogarem um aos corvos, e a Igreja morre.
Les prêtres ne font pas d'enfants: ils vous ordonnent d'en faire pour eux. Car la pilule et l'avortement légal ont vidé les séminaires.'
Autrefois, dans les familles nombreuses, on avait toujours un affamé, un estropié ou un crétin: les prêtres l'emportaient, l'Église prospérait. À présent, les gens n'ont plus assez d'enfants pour en jeter aux corbeaux, et l'Église se meurt.

BEAUTÉ (beleza)

  • Ninguém desfrutou nunca da beleza humana, nem aquele que a vê, nem aquele que a mostra. A beleza que captura te fará passar tanta fome como aquela que te escapa.
Personne n'a jamais joui de la beauté humaine, ni celui qui la voit, ni celui qui la montre. La beauté que tu captures t'affamera autant que celle qui te fuit.

BEST-SELLER

  • Se um cão caga no lugar adequado da calçada adequada, mil solas por dia plebiscitam a sua merda. O sonho de todos os escritores.
— Você leu o best-seller de X…?
— Não, mas por pouco não piso ele.
Si un chien chie au bon endroit du bon trottoir, mille semelles par jour plébiscitent son étron. Rêve de tous les auteurs.
Vous avez lu le best-seller de X…?
Non, mais j’ai failli marcher dedans.

CHARLATANS (charlatães)

  • Há fazedores de chuva porque chove.

CHRISTIANISME (cristianismo)

  • — Como acreditar nesse deus com barba branca, se eu não gosto de pêlos?
    — E o menino Jesús?
    — Ele não foi crucificado quando criança. Isso mo estraga tudo.
Comment croire en ce gros dieu à barbe blanche, si je n’aime pas les poils ?
— Et le petit Jésus ?
— Ils ne l’ont pas crucifié enfant. Ça me gâche tout.

CONFORMISME (conformismo)

  • Um homem é conformista para ocultar que nem sequer é um homem.
Un homme est conformiste pour dissimuler qu'il n'est même pas homme.

CONSEIL (conselho)

  • Todo conselheiro te diz, com ar de querer o melhor para você:
Seja como eu, isso é o que eu gostaria.
Tout conseilleur vous dit, sous l'air de vouloir votre bien:
—Soyez comme moi, ça me plairait.

CRUAUTÉ (crueldade)

  • Só chamamos crueldade aquela da qual somos vítimas. A que exercemos nós a denominamos dever, amor ou direito.
Nous n'appelons cruauté que celle dont nous sommes victimes. Celle que nous exerçons, nous la baptisons devoir, amour ou droit.

CULTURE (cultura)

  • Fomentar a apatia, puxar o saco dos molengos: isso é tudo o que se espera hoje da cultura.
Flatter la veulerie, lécher les mous : voilà désormais tout ce qu'on attend de la culture.

DEVENIR (tornar-se)

  • O mediocre só se corrige de um defeito adotando um defeito pior: o ignorante se torna pedante, o tímido se torna imperativo, o cético se torna fanático, o puritano se exibe, o constipado caga, o solteiro se casa.
Le médiocre ne se corrige d'un défaut qu'en adoptant un défaut pire : l'ignorant devient pédant, le timide devient péremptoire, le sceptique devient bigot, le pudibond s'exhibe, le constipé coule, le célibataire épouse.

DOS (costas)

  • As religões abraâmicas são as únicas no mundo que perseguem à vez os dois aneis masculinos: prepúcio e ânus. Esses selvagems acreditam desfeminizarem assim o corpo do homem.
Ao renunciar à circuncisão, o cristianismo parece menos bárbaro: mas ele é pior do que o judaísmo ou o islã, porque estende a sua perseguição para toda a sexualidade. O ideal do cristianismo é o eunuco. São Paulo não corta mais o prepúcio: ele exige mais — o rabo e as orelhas.
Les religions abrahamiques sont les seules du monde qui persécutent à la fois les deux anneaux masculins : prépuce, anus. Ces sauvages croient déféminiser ainsi le corps mâle.
En renonçant à la circoncision, le christianisme paraît moins barbare : mais il est pire que le judaïsme ou l’islam, car il étend sa persécution à la sexualité tout entière. L’idéal du chrétien est l’eunuque. Saint Paul déjà ne coupe plus les prépuces : il exige davantage — la queue et les oreilles.

ENFANT (menino)

  • Que homem é melhor do que uma criança que se atraiçoou para sobreviver?
Quel homme est mieux qu’un enfant qui s’est trahi pour survivre ?

ENGENDRER (engendrar)

  • Somos o resultado do medo que tiveram nossos pais da soidade e da morte. Embora eles nos o transmitiram com a esperança de aliviar-se todo foi, cruelmente, um esforço vão.
Nous sommes l'effet de la peur que nos parents ont eue de la solitude et de la mort. S'ils nous l'ont transmise dans l'espoir de s'en soulager c'est, cruellement, un coup pour rien.

FLATTERIE (adulação)

  • Rodeamo-nos de aduladores porque não suspeitamos deles: os seus cumpridos nos parecem justificados, estão muito por baixo do bem que pensamos de nós próprios.
On s'entoure de flatteurs parce qu'on ne les soupçonne pas : leurs compliments nous semblent justifiés, ils restent loin en dessous du bien que l'on pense de soi.

GARÇON (menino, garoto)

  • É comum dizer que as meninas são melhores em classe do que os meninos. Um cumplido envenenado. A escola é baseada na rutina, na mediocridade, na obediência, na comédia, na fofoca, no interesse individual, no servilismo para as mestras, no arte de atraiçoar os colegas. É isso que faz os meninos maus alunos: e isso é o que favorece as meninas.
On répète que les filles sont meilleures en classe que les garçons. Un compliment empoisonné. L’école est fondée sur la routine, la platitude, l’obéissance, la comédie, la jaserie, le chacun pour soi, la servilité envers les maîtresses, l’art de trahir les camarades. Voilà ce qui rend les garçons mauvais élèves : voilà ce qui avantage les filles.

GRAND (grande)

  • Os grandes homens são crianças de três anos que têm a força para impor a sua loucura.
Les grands hommes sont des enfants de trois ans qui ont la force d'imposer leur folie.

GUILLOTINE (guilhotina)

  • Dizem que há que restabelecer a pena de morte contra os assassinos de crianças¹. Mas esses assassinos não existiriam se, quando eles eram ainda encantadores meninos, houvessem sido violados e assassinados antes de crescer.
Vocês querem cortar as cabeças após os assassinatos terem acontecido. Que lassitude!
Não. Guilhotinem a partir de hoje todas as crianças. Desse modo vocês impedirão talvez que apareçam esses homems que matarão os meninos de amanhã.
_______
1. Talvez para cortar o colo a setecentos pais ou mães da França cada ano?
On dit qu’il faut rétablir la peine de mort contre les assassins d’enfants¹. Mais ces assassins n’existeraient pas si, jadis, charmants petits garçons, ils avaient été violés et assassinés avant de grandir.
Vous voulez couper les têtes après que les assassinats ont eu lieu. Quel laxisme !
Non. Guillotinez dès aujourd’hui tous les garçonnets. Ainsi vous empêcherez peut-être qu’apparaissent ces hommes qui tueraient les enfants de demain.
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1. Est-ce pour couper le cou à sept cents pères ou mères de France chaque année ?

HUMOUR (humor)

  • Não temos suficientes lágrimas para todas as desgraças do mundo, é preciso rir dalgumas delas. Das suas, por exemplo.
Nous n’avons pas assez de larmes pour tous les malheurs du monde, il faut bien rire de quelques uns d’entre eux. Les vôtres, par exemple.

INSTINCT (instinto)

  • Não há um instinto materno. Ante uma criança, as mulheres têm as mesmas necessidades que ante um homem: elas querem comprazer-se.
Manipulam a criança para obter reações gratificantes, ser obedecidas, ser acariciadas, ser provadas. E depois, já satisfeitas, elas grunhem, batem e se se pavoneam.
Il n'y a pas d'instinct maternel. Devant un enfant, les femmes ont le même besoin que devant un mâle: elles veulent se plaire.
Elles manipulent l'enfant pour en obtenir des réactions valorisantes, être obéies, être caressées, être prouvées. Puis, leur plaisir pris, elles grognent, tapent, se rengorgent.

LEÇONS (aulas)

  • A escolaridade obrigatória são dez anos de prisão preventiva. Alfabetizar é apenas um pretexto, e tal missão não se cumpre. Eles não ensinam, vigiam. Não educam, submetem. Não despertam, adormecem. Cada curso tem pinta de castigo infligido de ofício. Um regime de ameaças, de controle, de intimidação, de maus tratos corporais e mentais. Poderes plenos dos mediocres sobre o povo dos jovens. Sustento das surras paternas e dos gendarmes. O colegial, o estudante, estão melhor atados que um condenado à morte.
La scolarité obligatoire, c’est dix ans de prison préventive. Alphabétiser n’est qu’un prétexte, et cette mission n’est pas remplie. On n’enseigne pas, on surveille. On n’éduque pas, on soumet. On n’éveille pas, on éteint. Chaque cours a la gueule d'une punition infligée d'office. Régime de menaces, de contrôles, de brimades, de sévices corporels et mentaux. Pleins pouvoirs des médiocres sur le peuple des jeunes. Appui des corrections parentales et des gendarmes. L'écolier, le lycéen sont mieux ficelés qu'un condamné à mort.

OBÉIR (obedecer)

  • Quando ordeno a uma criança: «Faça isto!», ela só aprende a ordenar «Faça isto!». Quando castigo a uma criança, ela só aprende a castigar a uma criança.
Quando tenho de aguentar um déspota, imagino-o aos doze anos, horrível, envergonhado, glacial, sem colegas, com a cara roxa de bofetadas. Impaciente por ter crescido: pelos seus sonhos felizes passará a humanidade inteira, e as mulheres primeiro.
Quand j'ordonne à un enfant: «Fais ceci!», il n'apprend qu'à ordonner: «Fais ceci!». Quand je punis un enfant, il n'apprend qu'à punir un enfant.
Quand je subis un despote, je l’imagine à douze ans, hideux, honteux, glacé, sans camarades, la tête bleue de gifles. Impatient d’avoir grandi : dans ses rêves heureux, l’humanité entière y passera, et les femmes d’abord.

ORGASME (orgasmo)

  • Nos meninos, os orgasmos frequentes fazem crescer a inteligência, o pensamento independente: eles fazem os pré-púberes espirituais, sociáveis, receptivos, criativos e profundos. São incontáveis as masturbações, os acasalementos ingênuos, os grandes colegas úteis, na infância dos gênios ou dos talentos modernos, segundo o que eles contam ou como adivinamos. Pelo contrário, a educação castradora forma só almas estéreis, franzinas, maléficas: um rebanho de pequenos lacaios sem cérebro. É impossível cortar a calda a um homem sem arrancar-lhe também a cabeça.
Chez l’enfant, les orgasmes fréquents accroissent l’intelligence, l’indépendance de la pensée : ils rendent les impubères spirituels, sociables, réceptifs, créatifs et profonds. On ne compte pas les masturbations, les accouplements naïfs, les grands camarades utiles, dans l’enfance des génies ou des talents modernes, telle qu’ils la content ou qu’elle est devinée. À l’inverse, l’éducation châtreuse ne forme que des âmes stériles, rabougries, malfaisantes : une piétaille de petits employés. Impossible de couper la queue d’un homme sans lui abattre aussi la tête.

PARENTS (pais)

  • Amamos nossos pais à falta de algo melhor, como Robinson Crusoe ama as cabras da sua ilha deserta.
On aime ses parents faute de mieux, comme Robinson Crusoé aime les chèvres de son île déserte.

PÉDOPHILES (pedófilos)

  • A imprensa, heterossexual e familiar, descreve os pederastas como agressores temíveis para as crianças. Mas, na sua imensa maioria, as violações de crianças são heterossexuais e familiares. Além disso, quase todas permanecem impunes, escondidas, cobertas.
La presse, hétérosexuelle et familiale, fait passer les pédérastes pour des agresseurs que les enfants ont à craindre. Mais, dans leur immense majorité, les viols d’enfants sont hétérosexuels et familiaux. En outre, ils demeurent presque tous impunis, cachés, couverts.

QUI EST QUI ? (quem é quem?)

  • Escrevemos para os outros ou para nós próprios? A velha pergunta é engraçada. Quando eu escrevo, tenho a impressão de que cem mil pessoas —que me desejam todo o bem e todo o mal que há no mundo— espiam por cima do meu ombro, ditam, avaliam, comentam, insinuam, me puxam o cabelo, brigam, gritam e se calam de golpe, chiam novamente, esperneam, suspiram, ameaçam, me beijam, me espetam, me arrancam da cadeira, me sentam de novo, me mimam, aproximam seus focinhos e me chupam o sangue: e esses odiosos vampiros alborotadores, esses demônios, essa multidão tirânica para a qual eu trabalho, aterrorizado, adulado, cirandado, sou eu sozinho.
Ecrit-on pour les autres ou pour soi? La vieille question est drôle. Quand j’écris, j’ai l’impression que cent mille personnes — qui me veulent tout le bien et tout le mal du monde — épient par-dessus mon épaule, dictent, évaluent, commentent, insinuent, tirent mes cheveux, se chamaillent, hurlent et se taisent d’un coup, braillent à nouveau, piétinent, soupirent, menacent, m’embrassent, me piquent, m’arrachent la chaise, me rassoient, me cajolent, avancent leurs museaux et me mordent au sang : et ces odieux vampires chahuteurs, ces démons, cette foule tyrannique pour laquelle je travaille, terrifié, adulé, saccagé, c’est moi seul.

PENSÉE (pensamiento)

  • Uma filosofia não seria honrada se não fosse contraditória, incoerente, indefendível.
Une philosophie ne serait honnête que contradictoire, incohérente, indéfendable.

SILENCE (silêncio)

  • Os escritores caminham para o silêncio, renunciam a se exprimir, a comunicar. Eles consideram demasiado enganoso dizer, crer, fazer crer? Todo progresso intelectual nos torna mais capacitados para criar, mas mais reticentes para o fazer. Alcançamos a abstinência dos bons espíritos que não trouxeram nada para o mundo.
Des écrivains cheminent vers le silence, renoncent à s'exprimer, à communiquer. Jugent-ils trop mensonger de dire, de croire, de faire croire ? Tout progrès intellectuel vous rend plus apte à créer, mais plus réticent à le faire. On rejoint l'abstention des bons esprits qui n'ont rien mis au monde.

SUICIDE (suicídio)

  • Suicidar-me engolindo cada dia um pedaço do meu cuerpo.
Me suicider en avalant chaque jour un morceau de mon corps.

UTÉRUS (útero)

  • Mais desgraçados que Jonas no estômago da sua baleia, os homens devem sofrir nove meses de útero. Muitos deles não no se recuperam nunca. Essas cárceres iniciáticas, é verdade, vão do suportável ao criminal: isso depende da besta que se movimenta ao redor.
Plus malheureux que Jonas dans l'estomac de sa ba leine, les hommes doivent subir neuf mois d'utérus. Nombre d'entre eux ne s'en remettent jamais. Ces prisons initiatiques, il est vrai, vont du vivable au meurtrier: celà dépend de la bête qui bouge autour.

VERTU (virtude)

  • O vício corrige melhor que a virtude. Suporte um vicioso e tomará horror ao vício. Suporte um virtuoso e logo odiará a virtude inteira.
Le vice corrige mieux que la vertu. Subissez un vicieux, vous prenez son vice en horreur. Subissez un vertueux, c'est la vertu tout entière que vous haïrez bientôt.
  • Talvez o homem é mau porque, durante toda sua vida, está esperando morrer: e assim morre mil vezes na morte dos outros e das coisas.
Pois todo animal consciente de estar em perigo de morte fica louco. Louco medroso, louco astuto, louco malvado, louco que fuge, louco servil, louco furioso, louco odiador, louco embrulhador, louco assassino.
Peut-être l'homme est mauvais parce que, la vie durant, il attend de mourir: et meurt mille fois dans la mort des autres et des choses.
Car tout animal conscient d'être en danger de mort devient fou. Fou peureux, fou rusé, fou méchant, fou fuyant, fou servile, fou furieux, fou haineux, fou tortillard, fou assassin.

W.C.

  • Encontramos intactas, nos filósofos funcionários de universidade e de instituto, a altivez e a vileza cruel do baixo clero dos séculos católicos. Predicadores famélicos e açoitados ontem: hoje doutos ou doutores em todo, historiadores, sociólogos, psicólogos, economistas, psicanalistas, cineastas, televoyeurs, telecomentaristas, teólogos, roqueiros, coreógrafos, informáticos, etologistas, etnologistas, antropólogos, publicitários e pedagogos, os filósofos, e lhes pagam! Que escalada! E que sotainas tão toscas! A igreja perde seus filhotes por todos os buracos. Mas é a mesma família através do tempo –a mesma gentalha infecta, imunda, ínfima, ratos que comem das cloacas do Poder. Vellos fetos prostáticos, pavões depenados, servis, vacas meteóricas, putas sudorosas, uterocratas estúpidos, panacas empeçonhados, mamães, violadores de alunos, fracassados úmidos, vaidosos secos, bolas de gordura e de pus, coprolitos indecifráveis, padres sibilantes, cortantes, bonachões, ladrões de pobres, oh filósofos, como maldizer a puta que vos pariu para devolver-vos o que a humanidade vos deve!
On retrouve intactes, chez les philosophes fonctionnaires d'université, de lycée, la morgue et la bassesse vicieuse du petit clergé des siècles catholiques. Prêcheurs faméliques et fessés hier : mais aujourd'hui doctes ou docteurs en tout, historiens, sociologues, psychologues, économistes, psychanalystes, cinéastes, télévoyeurs, télébaveurs, théologiens, rockers, chorégraphes, informatheux, éthologues, ethnologues, anthropologues, publicitaires et pédagogues, les philosophes, et payés ! Quelle ascension ! Et quelles soutanes cousues de fil blanc ! L'église perd ses petits par tous les trous. Mais c'est la même famille au long du temps - la même engeance infecte, immonde, infime, des rats qui mangent à l'égoût du Pouvoir. Vieux fœtus prostatiques, coqs déplumés, vaches météorisées, mégères suantes, godiches utérocrates, empoisonneuses niquedouille, mamans, violeurs d'élèves, ratés humides, infatués secs, boules de graisse et de pus, coprolithes indéchiffrables, curés sifflants, coupants, bonshommes, voleurs de pauvres, ô philosophes, comment vous chier dessus pour vous rendre ce que l'humanité vous doit !

X

  • Há que proibir o nascimento.
Un petit homme tout nu, bite et couilles gluantes de sécrétions, traverse lentement la vulve humide d’une femme gémissante aux yeux égarés. C’est encore plus obscène que le fist fucking. Il faut interdire la naissance.

ZOOPHILIE (zoofilia)

  • Só a companhia de crianças me faz preferir não continuar sendo uma.
Seule la compagnie des enfants me fait préférer ne plus en être un.
  • Crescimento dos filhos dos vizinhos e dos amigos. Tristeza mil vezes experimentada: ver a alguém tornar-se qualquer um.
Croissance des enfants du voisinage et des amis. Tristesse vingt fois vécue : voir quelqu’un devenir n’importe qui.
  • A estupidez é uma estratégia da inteligência: a criança se adapta, desde o seu nascimento, ao seu entorno de idiotas, e conquista um lugar entre eles a base de imitá-los.
La bêtise est une stratégie de l’intelligence : l’enfant s’adapte, dès sa naissance, à son entourage d’imbéciles, il y conquiert une place en les imitant.
  • O amigo de uma criança é como um cão-guia.
L’ami d’un enfant est comme un chien d’aveugle.
  • Na América adoram crianças: Reagan instituíu, entre os mestres e policiais, uma espécie de Gestapo santarrona, inumerável e com poder terrível, para proteger os menores do Grande Satã: o sexo.
En Amérique, on adore les enfants : Reagan a suscité, parmi les enseignants et les polices, une sorte de Gestapo bigote, innombrable et aux pouvoirs effarants, afin de protéger les mineurs contre le Grand Satan — le sexe.
  • Proteger as crianças contra o sexo —començando pelo delas, que é destruído— é o álibi que a direita invoca de entrada em vários países da Europa para infestar a sociedade, para tomar o controle das vidas privadas, dos impressos, das imagens, das manifestações públicas, das iniciativas em que participam menores, para reinar através da suspeita, da denúncia, da investigação generalizada, para inspeccionar com qualquer pretexto, para isolar do mundo as crianças, para perseguir as liberdades que ela não pode suprimir. A direita tira proveito assim de uma grave debilidade dos progressistas, que não têm a coragem de renovar os hábitos, nem a imaginação de criar para as crianças, conforme o sexo delas, um estatus social que lhes forneça o direito a um pensamento pessoal e a uma vida privada.
Mas é que há um político, um intelectual «de esquerda», que veja na criança algo mais do que um bichinho de idade e sexo indeterminados, um pouco enternecedor, um pouco chato, que deva ser confiado, com toda justificação, às senhoras e aos eunucos, esperando que se pareça com seu pai?
Os conservadores, os moralistas hipócritas, os riquíssimos lobbies confessionais, têm-se apoderarado livremente de toda a infância. Os obscurantistas conquistaram o direito exclusivo de formar as condutas. Assim cresce o eleitorado da direita que amanhã reinará, e que vai se chamar, adivinamos, socialista, européia e nacional...
A peste negra regressa. Estende-se diante da mesma indiferença que há sessenta anos. Com a cumplicidade da esquerda e da intelligentsia, que ofuscam o seu próprio puritanismo e o seu incomensurável desprezo para os «menores», ela é um neonazismo cada vez menos escondido e um cristianismo assassino que se unem contra o homem, e que vão impor a sua ideologia bestial à juventude de dois continentes sem encontrar obstáculos.
Protéger les enfants contre le sexe — à commencer par le leur, qu’on détruit — est l’alibi que la droite invoque déjà dans plusieurs pays d’Europe pour infester la société, reprendre le contrôle des vies privées, des imprimés, des images, des propos publics, des initiatives impliquant des mineurs, régner par le soupçon, la dénonciation, l’enquête générale, perquisitionner à tout prétexte, déporter les enfants à l’écart du monde, harceler les libertés qu’elle ne peut pas abolir. La droite met ainsi à profit une faiblesse capitale des progressistes, qui n’ont eu ni le courage de réformer le minorat, ni l’imagination de créer pour les enfants, chacun selon son sexe, un statut social qui leur ménage le droit à une pensée personnelle et à une vie privée.
Mais y a-t-il un politique, un intellectuel « de gauche » qui voie dans l’enfant mieux qu’une bestiole d’âge et de sexe indéterminés, un peu attendrissante, un peu encombrante, qu’on a bien raison de confier aux dames et aux eunuques en attendant qu’elle ressemble à papa ?
Les conservateurs, les pudibonds, les richissimes lobbies confessionnels ont fait librement main basse sur toute l’enfance ; les obscurantistes ont conquis le droit exclusif de former les comportements ; ainsi grandit l’électorat de la droite qui règnera demain, et dont on devine qu’elle s’appellera socialiste, européenne et nationale…
La peste brune réapparaît. Elle s’épanouit dans la même indifférence qu’il y a soixante ans. Avec la complicité des gauches et d’une intelligentsia qu’aveuglent leur propre puritanisme et leur incommensurable mépris des « mineurs », c’est un néo-nazisme de moins en moins caché et un christianisme assassin qui s’unissent contre l’homme, et qui vont infliger leur idéologie bestiale à la jeunesse de deux continents sans rencontrer d’obstacles.
  • Em 1945, o exército americano batizou carinhosamente como Little boy a bomba atômica que destruiu Hiroshima. Aquele «menino» —um comprido obus de quatro toneladas— causou vinte mil vítimas em poucos segundos. Graças a Deus não era sexual.
En 1945, l’armée américaine avait affectueusement baptisé Little boy la bombe atomique qui détruisit Hiroshima. Ce « petit garçon » — un long obus de quatre tonnes — fit cent vingt mille victimes en quelques secondes. Dieu merci, ce n’était pas sexuel.
  • Todas os meninos são homens. Poucos adultos continuam a sê-lo.
Tous les enfants sont des hommes. Peu d’adultes le restent.

Ensaios e artigos[editar]

  • Tolerar a sexualidade, como afirmamos fazer, explorá-la e compreendê-la, como fingimos necessitar, seria, no entanto, deixá-la aparecer em todo lugar, deixar que se expresse e se viva em todo lugar, em suma, fazê-la florescer a todas as luzes na vida social. E não restringi-la aos livros de moda, às lojas de Pigalle, aos casamentos reais e às portas dos banheiros.
Não é a aparição de livros « eróticos» ou de produtos « pornográficos» o que demonstra, nesse âmbito, a liberdade, mas pelo contrário a desaparição dos lugares e dos rituais específicos onde a sexualidade, o prazer e o corpo estiveram encerrados. Não é às revistas pornôs às que lhes corresponde mostrar desnudos, orgias, sapatões, trepadas de garotos, mas a France‑Dimanche, L’Express, Paris‑Match, Tintin, Spirou e outras publicações humanistas. Não é aos produtores de filmes X a quem corresponde representar as vidas sexuais, mas aos cineastas que atraem as massas, e às televisões. Não é aos escritores «especiais» a quem corresponde descrever nossos corpos, mas à literatura inteira. Ou se deverá dizer que a sexualidade é intolerável e que deve continuar prisioneira de alguns maníacos que se obstinam a mostrar que isso existe, enchendo como podem esse vazio da nossa cultura e dos nossos costumes.
Tolérer la sexualité, comme nous le prétendons, l’explorer et la comprendre, comme nous en affectons le besoin, ce serait pourtant la laisser apparaître partout, s’exprimer et se vivre partout, bref, l’épanouir au grand jour de la vie sociale. Et non la coincer entre les livres chics, les boutiques de Pigalle, les mariages princiers et les portes de chiottes.
Ce n’est pas l’apparition d’œuvres « érotiques » ou de produits « pornographiques » qui manifeste, en ce domaine, la liberté, c’est au contraire la disparition des lieux et des rites spéciaux où la sexualité, le plaisir, le corps étaient enfermés. Ce n’est pas aux magazines pornos de montrer des nus, des partouzes, des gouines, des foutages de mioches, c’est à France‑Dimanche, l’Express, Paris‑Match, Tintin, Spirou et autres publications humanistes. Ce n’est pas aux fabricants de films X de représenter les vies sexuelles, c’est aux cinéastes qui attirent les foules, et aux télévisions. Ce n’est pas aux auteurs « particuliers » de déchiffrer nos corps, c’est à la littérature entière. Ou bien, qu’on dise que la sexualité est intolérable, et qu’elle doit rester prisonnière des quelques maniaques qui s’obstinent à montrer comment ça existe, et comblent comme ils le peuvent ce vide de notre culture et de nos mœurs.
Tony Duvert, «L'Érotisme des autres», Minuit, n.º 19, maio de 1976, pp. 2-12.
  • Enquanto o mito de Narciso representa a um homem que se ama a si próprio porque acredita ver nele a outro, nós amamos a outro só na medida em que acreditamos reconhecermo-nos.
Alors que le mythe de Narcisse dépeint un homme qui s’aime parce qu’il croit qu’il en voit un autre, nous, nous aimons autrui dans la seule mesure où nous croyons nous reconnaître.
Tony Duvert, «Idée sur Narcisse», Masques, n.º 3 (inverno 1979-1980).
  • Aos gays que acham que os pedófilos «sujam» sua causa, eu devia responder-lhes: Não, são vocês, gays, quem, pela sua imbecilidade, suas ridicularias, seus delitos e as brutalidades dos seus costumes, sujam a pederastia. Vocês são ferrados, babacas e sacanas: quando eu conheço a um menino, seus pais têm medo de que um dia ele se pareça convosco. E então eles esmorram minha porta ou chamam a polícia. Por vossa culpa. E não por minha culpa. Eu sou «lido» apenas através de vocês.
Aux homos qui jugent que les pédophiles « salissent » leur cause, je devrais répondre : Non, c’est vous, homos, qui, par l’imbécillité, les ridicules, les délits et les brutalités de vos mœurs, salissez la pédérastie. Vous êtes moches, cons et salauds : quand je connais un gosse, ses parents ont peur qu’un jour il vous ressemble. Alors on me fout à la porte ou on appelle les flics. À cause de vous. Et non à cause de moi. Moi, on ne me « lit » qu’à travers vous.
Tony Duvert, «La casserole au bout de la queue», Gai Pied, n.º 25 (abril 1981).

Entrevistas[editar]

  • No geral, a literatura, erótica ou não, sempre reflete o erotismo como algo à parte. Eu tento fazer o contrário, abrir a jaula. E depois, o erótico e o não erótico não se distinguem mais e combinam seu poder.
D'ordinaire, la littérature, érotique ou non, montre toujours l'érotisme comme une chose à part. J'essaie de faire le contraire, d'ouvrir la cage. Et après, l'érotique et le non-érotique ne se différencient plus, ils combinent leur pouvoirs.
"L'érotisme n'est pas un violon d'Ingres", em L'Express, n.° 1124 (22-28 de janeiro 1973).
  • A sociedade sexualmente livre que reivindicam as pessoas me parece uma sociedade ingenuamente idealizada, na qual o erotismo é amável, liso, sem proibições, mas sem uma verdadeira presença. Todo o mundo se quer, ninguém faz mal, ninguém abusa. Parece mais uma sociedade de hiper-repressão, na qual o corpo de cada um está ao serviço e às ordens de todos.
La société sexuellement libre que les gens revendiquent m'a l'air d'une société boy-scout, où l'érotisme est gentil, aplati, sans interdit, mais sans vraie présence. On aime tout le monde, on ne fait pas de mal, on n'abuse pas. On dirait plutôt une société de l'hyperrépression, où le corps de chacun est au service, aux ordres de tous.
Ibíd.
  • Para mim, a pedofilia é uma cultura. É necessário que ela represente uma vontade de fazer algo dessa relação com a criança (...). É imprescindível que as relações sejam culturais. E é imprescindível que aconteça algo que não seja nem paternal nem pedagógico. Deve ser criada uma civilização.
Pour moi, la pédophilie est une culture ; il faut que ce soit une volonté de faire quelque chose de cette relation avec l’enfant. (...) Il est indispensable que les relations soient culturelles ; et il est indispensable qu’il se passe quelque chose qui ne soit ni parental, ni pédagogique. Il faut qu’il y ait création d’une civilisation.
"Tony Duvert: Non à l'enfant poupée", em Libération, n.º 1532 e 1533 (10-11 de abril 1979).
  • [D]evemos impedir que as mulheres tenham um direito exclusivo sobre as crianças. [...] Não se trata já de que haja relações sexuais ou de que não haja. Se eu conheço uma criança e sua mãe se opõe às relações que eu tenho com ela, não é de jeito nenhum por uma questão de pintos, é acima de tudo porque lha pego. Por questões de poder, sim.
Ou por outras palavras, elas se apropriam de uma boneca e a cuidam.
[I]l faut empêcher que les femmes aient un droit exclusif sur les enfants. [...] Il ne s’agit même plus qu’il y ait des relations sexuelles ou qu’il n’y en ait pas. Je connais un enfant et si la mère est opposée aux relations que j’ai avec lui, ce n’est pas du tout pour des histoires de bite, c’est avant tout parce que je le lui prends. Pour des histoires de pouvoir, oui.
Autrement dit, elles se prennent une poupée et se la gardent.
Ibíd.
  • Sou totalmente solidário com as lutas em contra. É evidente que há que travar uma batalha contra as leis, contra as instituções. Mas provavelmente não a favor da pedofilia. A luta deve ser para que o Estado e a sexualidade deixem de ter a mínima relação. Na realidade, para que deixe de existir um Estado, uma institução relacionada com a sexualidade. E, na minha opinião, nesse estado de suposta liberdade, as situações sexuais que conhecemos se tornam inimagináveis. E os personagens que conhecemos como parceiros sexuais ou como vítimas também se tornam inimagináveis. Mas não quero defender a sexualidade atual de um pedófilo, ou de um gay, o de um hetero, o de um homem ou de uma mulher. Na minha opinião, eles são subprodutos de uma estatização da sexualidade.
Je reste entièrement solidaire des combats contre. Il est évident qu’il faut s’occuper d’un combat contre les lois, contre les institutions. Mais sûrement pas pour la pédophilie. Le combat à mener, c’est pour que l’État et la sexualité n’aient plus le moindre rapport. Que vraiment il n’existe plus un État, il n’existe plus une institution qui ait rapport avec la sexualité. Et, à mon avis, dans cet état de liberté supposé, les situations sexuelles que nous connaissons deviennent impensables. Et les personnages que nous connaissons comme partenaires sexuels ou comme victimes quel que soit leur âge et quels que soient leurs goûts deviennent impensables aussi. Mais je ne veux pas défendre la sexualité actuelle d’un pédophile, ou d’un homo, ou d’un hétéro, ou d’un homme ou d’une femme. À mon avis ce sont des sous‑produits d’une étatisation de la sexualité.
Ibíd.

Sobre Tony Duvert[editar]

  • Tony Duvert estava animado pelo demônio da pureza. Absoluta e sem compromisso.
Tony Duvert était animé du démon de la pureté. Absolue et sans compromis.[1]
Pierre Assouline, «Mort d’un écrivain à Thoré-la-Rochette», Le Monde, 23 de agosto de 2008.
  • O escritor Tony Duvert, de 63 anos, foi encontrado morto, na quarta-feira 20 de agosto, em sua casa, na aldeia de Thoré-la-Rochelle (Loir-et-Cher). A sua morte teria acontecido há aproximadamente um mês. Foi aberta uma investigação, mas ele parece ter morto por causas naturais. Tony Duvert não tinha publicado livros desde 1989. Tinha sido quase esquecido, e no entanto deixou marca em sua época -os anos 1970- pela extrema liberdade que manifestava tanto nas suas obras como na sua vida, pelo seu tom único de crudeza e de elegância, pelo ritmo das suas frases, muitas vezes sem puntuação, deixando-se levar unicamente pela expressividade do desejo, capaz, como se acreditava então, de cambiar o mondo.
Jean-Noël Pancrazi. «Tony Duvert». Le Monde, 24 de agosto de 2008.
  • Esse pobre corpo abandonado no Loir-et-Cher não é o resíduo das andanças do passado, nem dá testemunho das ilusões que teriam sido precisas para alcançar a felicidade contemporânea. É o corpo de um escritor mágico, que agora toca redescobrir –se é que essa miserável tragédia pode servir para algo–, um escritor mágico cuja caixa correio levou um mês a transbordar, porque como bem sabem, a magia, os escritores, todas essas bobagens, e a liberdade pela qual tenham lutado, hoje em dia não estão nem aí.[2]
Florent Georgesco. «La boîte aux lettres de Tony Duvert». Blog des ELS, 28 de agosto de 2008.
  • Tony era um teatro de sombras no qual se representavam todos os papéis, e no qual todos os papéis eram ele.[3]
Gilles Sebhan, Tony Duvert: L'enfant silenciueux, 2010.

Referências

  1. Assouline, Pierre. «Mort d’un écrivain à Thoré-la-Rochette», Le Monde [Página visitada em 2014-10-28].
  2. Georgesco, Florent. «La boîte aux lettres de Tony Duvert». Blog des ELS, 28 de agosto de 2008 [Página visitada em 2014-10-29].
  3. Sebhan, Gilles. Tony Duvert: L'enfant silenciueux. Paris: Éditions Deoël, 2010, p. 123.

Bibliografia[editar]

  • Portrait d'homme-couteau / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 1969, 192 p. ISBN 2-7073-0193-0.
  • Le Bon sexe illustré / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 1973, 160. p. ISBN 2-7073-0003-9.
  • Journal d’un innocent / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 1976, 275 p. ISBN 2-7073-0095-0.
  • Quand mourut Jonathan / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 1978, 244 p. ISBN 2-7073-0219-8.
  • L'Enfant au masculin / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 1980, 184 p. ISBN 2-7073-0321-6
  • L'Île Atlantique / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 2005 (reedição), 323 p. ISBN 2-7073-1933-3.
  • Abécédaire malveillant / Tony Duvert. Paris: Éd. de Minuit, 1989, 144 p. ISBN 2-7073-1316-5.

Em português[editar]

  • Retrato de homem faca / Tony Duvert. Trad: Luíza Neto Jorge [s.l.]: Alberto Raposo Pidwell Tavares, 1977.
  • O sexo bem comportado / Tony Duvert. Trad: Fernando Cabral Martins. Porto: Edições Afrontamento, 1974; reedição 1979.