John Cleese: diferenças entre revisões

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::- ''Do documentário do Channel 4, ''The Secret Life of Brian'' (2007).''
::- ''Do documentário do Channel 4, ''The Secret Life of Brian'' (2007).''


==Elogio a Graham Chapman==

"Graham Chapman, co-autor do sketch do Papagaio Morto desapareceu. Deixou de existir. Desprovido de vida, descansa em paz. Ele bateu a bota, foi ter com os anjinhos, foi desta para melhor, foi para o saco e foi conhecer o Grande Chefe de Entertenimento Leve no céu. E acho que estamos todos a pensar como é triste que um homem com tanto talento, com tantas capacidades... bondade... com tanta inteligência, nos tenha sido retirado tão repentinamente com apenas 48 anos, antes de conseguir fazer tanto do que era capaz e antes de se divertir o suficiente.

Bem, acho que devo dizer que isso são tudo disparates. Que vá com Deus, esse cabrão sanguessuga. Espero que se arda.

E a razão pela qual sinto que devo dizer isto é porque ele nunca me perdoaria se não o fizesse. Se deitasse fora esta oportunidade gloriosa de vos chocar a todos em seu nome. Para ele valia tudo menos o bom gosto vazio.

Parecia que o ouvia a sussurrar no meu ouvido a noite passada enquanto eu escrevia isto: "Muito bem, Cleese", disse ele, "tens muito orgulho por ter sido a primeira pessoa a dizer 'merda' na televisão britânica. Se esta cerimónia é mesmo para mim, só para começar, quero que te tornes na primeira pessoa num memorial britânico a dizer 'foda-se'".

Sabem, o problema é que não consigo. Se ele estivesse comigo aqui agora, é provavel que tivesse coragem porque ele encorajava-me sempre. Mas a verdade é que não tenho tantos tomates como ele, nem o mesmo sentido de provocação. Por isso vou ter de me contentar por dizer 'Betty Marsden'.

Mas depois de mim vêm pessoas de espírito menos inibido. O Jones e o Idle, o Gilliam e o Palin. Sabe Deus o que se vai passar na próxima hora em nome do Graham. Calças a cair, ímpios em pogos saltitões, demonstrações incríveis de peidos a alta velocidade, incesto sincronizado. Um destes quatro está a pensar enfiar um ocelote morto e uma máquina de escrever Remington de 1922 no rabo enquanto toca o segundo movimento do concerto de violoncelo de Elgar.

E isto só na primeira parte.

Porque, sabem, era assim que o Gray quereria as coisas. A sério. Para ele valia tudo menos o bom gosto vazio. E vai ser isso que vou sempre recordar dele, para além, claro, da sua extravagância olímpica. Ele era o príncipe do mau gosto. Adorava chocar. Na verdade, o Gray incorporava e simbolizava, mais do que alguém que eu conheça, tudo o que era mais ofensivo e infantil nos Monty Python.

E o prazer que tirava em chocar as pessoas levou-o a conseguir feitos cada vez maiores. Gosto de pensar que ele foi o pioneiro que abriu caminho por onde espíritos mais fracos podem caminhar.

Algumas recordações: lembro-me de escrever o discurso do cangalheiro com ele e de ele sugerir a punchline, "Tudo bem, vamos comê-la, mas se depois te sentires mal com isso, cavamos uma campa e podes vomitar nela".

Lembro-me de descobrir em 1969, quando escrevíamos todos os dias no apartamento onde eu e a Connie Booth vivíamos, que ele tinha descoberto o jogo de imprimir palavras obscenas em quadradinhos de papel bonitos e depois, sorrateiramente, os colocar em locais estratégicos por todo o apartamento, o que me obrigava a mim e à Connie a fazer buscas frenéticas por papéis sempre que recebíamos visitas.

Lembro-me dele nas festas da BBC a rastejar pelo chão, a roçar-se com carinho nas pernas de patrões de fato cinzento e a morder com delicadeza as pernas femininas mais apetecíveis. A Sra. Eric Morecamble também se lembra disso.

Lembro-me de quando ele foi convidado para dar um discurso no Oxford Union e de entrar no auditório vestido de cenoura: um disfarce completo e cor-de-laranja com uma mola verde a fazer de chapéu, e depois, quando chegou a sua vez de falar, recusou-se a fazê-lo. Ficou ali especado, literalmente sem palavras, durante 20 minutos, enquanto sorria como um beato... essa foi a única vez na História em que um homem calado conseguiu provocar um motim.

Lembro-me de o Graham ter recebido um prémio de TV do jornal Sun das mãos do Reggir Maulding, quem mais!, e de pegar no troféu, cair ao chão e rastejar até à sua mesa enquanto gritava alto, o mais alto que conseguia. E se se lembram bem do Gray, ele conseguia gritar mesmo muito alto.

É magnífico, não é? Sabem, acho que o problema do choque não é que deixe algumas pessoas zangadas; acho que dá uma alegria momentânea aos outros por nos libertar à medida que nos apercebemos que, naquele instante, as regras de conduta social que nos limitam a vida não são assim tão importantes.

Bem, o Gray já não nos pode fazer isso. Já não está cá. É um ex-Chapman. Tudo o que temos dele agora é a nossa memória, mas vai demorar algum tempo até que desapareça."

:- Elogio feito durante o Memorial ao seu colega dos Monty Python em 1989


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Revisão das 22h00min de 1 de novembro de 2015

John Cleese
John Cleese
John Cleese
John Cleese em outros projetos:

John Marwood Cleese (Weston-super-Mare, Somerset, 27 de Outubro de 1939) é um comediante e ator britânico.



  • Fico impressionado com como o riso nos liga às pessoas. É quase impossível manter qualquer tipo de distância ou noção de hierarquia social quando estamos simplesmente perdidos de riso. O riso é uma força democrática.
-The Human Face, BBC Television (2001)
  • Há seiscentos anos teríamos sido queimados por isto. Agora o que estou a sugerir é que evoluímos.
- A defender o filme A Vida de Brian no programa Friday Night Saturday Morning da BBC (9 de Novembro de 1979)
  • Se gostar de chocolate, não será surpresa para ninguém encontrar alguns chocolates no meu frigorífico, mas se descobrissem que tenho 16 armazéns cheios de chocolate, iam pensar que era doido. Todos estes tipos ricos são loucos, idiotas obsessivo-compulsivos que estão obcecados com dinheiro - só pensam em dinheiro - são todos doidos.
- Entrevista no Fresh Air with Terry Gross enquanto promovia o filme Fierce Creatures, que Cleese diz ser uma sátira à ganância de Rupert Murdoch. (1997)
  • O Basil Fawlty foi uma personagem fácil para mim. Não sei porquê, mas representar um rufia mau, reprimido e incompetente é algo que me sai naturalmente.
- Entrevista no Fresh Air with Terry Gross (1997)
  • Se não tivesse entrado para os Monty Python, é provável que tivesse seguido o meu plano original de me licenciar e ser um revisor oficial de contas, ou talvez um advogado e teria comprado uma casa bonita nos subúrbios, teria uma boa mulher e filhos e seria sócio de algum clube e depois suicidava-me.
- Entrevista no Fresh Air with Terry Gross (1997)
  • Quem se ri mais, sabe mais.
- Citado no livro de Jane Bluestein Creating Emotionally Safe Schools: A Guide for Educators and Parents‎, p.215 (2001).
  • Se querem trabalhadores criativos, dêem-lhes tempo suficiente para brincar.
- Citado no livro de Dale N. LeFevre Best New Games, p.9 (2002)
  • A tecnologia assusta-me bastante. É elaborada por engenheiros para impressionar outros engenheiros e vem sempre com livros de instruções que são escritos por engenheiros para outros engenheiros - e é por isso que quase nenhuma tecnologia funciona.
- Entrevista na BBC para Die Another Day (20 de Novembro de 2002)''
  • Se Deus não queria que comêssemos animais, então porque é que os fez com carne?
- Citado no livro de H.M. Leathem W.T.F.? : (What is Wrong With Tom Faerie?) (2006)
  • Sabe, era impossível fazer um sketh daqueles hoje em dia. Os espectadores estão demasiado desinformados. Eu culpo os americanos. A nação dos idiotas obesos, violentos, ignorantes e agarrados à Bíblia que contaminaram a cultura mundial. É por isso que vivo aqui na França... É lindo, não é? Olhe para aquelas oliveiras. [Entrevistadora: Isto é Santa Barbara.]
- Do especial da PBS, Monty Python's Personal Best: John Cleese's Personal Best, a fazer o papel de velho senil. (2006)
  • Quando se chega à minha idade, e agora tenho 66 anos, apercebemo-nos de que o mundo é uma casa de doidos e que a maioria das pessoas vivem numa fantasia de uma maneira ou outra. Por isso, assim que uma pessoa se apercebe disso, não é uma coisa que incomoda muito.
- Do documentário do Channel 4, The Secret Life of Brian (2007).

Elogio a Graham Chapman

"Graham Chapman, co-autor do sketch do Papagaio Morto desapareceu. Deixou de existir. Desprovido de vida, descansa em paz. Ele bateu a bota, foi ter com os anjinhos, foi desta para melhor, foi para o saco e foi conhecer o Grande Chefe de Entertenimento Leve no céu. E acho que estamos todos a pensar como é triste que um homem com tanto talento, com tantas capacidades... bondade... com tanta inteligência, nos tenha sido retirado tão repentinamente com apenas 48 anos, antes de conseguir fazer tanto do que era capaz e antes de se divertir o suficiente.

Bem, acho que devo dizer que isso são tudo disparates. Que vá com Deus, esse cabrão sanguessuga. Espero que se arda.

E a razão pela qual sinto que devo dizer isto é porque ele nunca me perdoaria se não o fizesse. Se deitasse fora esta oportunidade gloriosa de vos chocar a todos em seu nome. Para ele valia tudo menos o bom gosto vazio.

Parecia que o ouvia a sussurrar no meu ouvido a noite passada enquanto eu escrevia isto: "Muito bem, Cleese", disse ele, "tens muito orgulho por ter sido a primeira pessoa a dizer 'merda' na televisão britânica. Se esta cerimónia é mesmo para mim, só para começar, quero que te tornes na primeira pessoa num memorial britânico a dizer 'foda-se'".

Sabem, o problema é que não consigo. Se ele estivesse comigo aqui agora, é provavel que tivesse coragem porque ele encorajava-me sempre. Mas a verdade é que não tenho tantos tomates como ele, nem o mesmo sentido de provocação. Por isso vou ter de me contentar por dizer 'Betty Marsden'.

Mas depois de mim vêm pessoas de espírito menos inibido. O Jones e o Idle, o Gilliam e o Palin. Sabe Deus o que se vai passar na próxima hora em nome do Graham. Calças a cair, ímpios em pogos saltitões, demonstrações incríveis de peidos a alta velocidade, incesto sincronizado. Um destes quatro está a pensar enfiar um ocelote morto e uma máquina de escrever Remington de 1922 no rabo enquanto toca o segundo movimento do concerto de violoncelo de Elgar.

E isto só na primeira parte.

Porque, sabem, era assim que o Gray quereria as coisas. A sério. Para ele valia tudo menos o bom gosto vazio. E vai ser isso que vou sempre recordar dele, para além, claro, da sua extravagância olímpica. Ele era o príncipe do mau gosto. Adorava chocar. Na verdade, o Gray incorporava e simbolizava, mais do que alguém que eu conheça, tudo o que era mais ofensivo e infantil nos Monty Python.

E o prazer que tirava em chocar as pessoas levou-o a conseguir feitos cada vez maiores. Gosto de pensar que ele foi o pioneiro que abriu caminho por onde espíritos mais fracos podem caminhar.

Algumas recordações: lembro-me de escrever o discurso do cangalheiro com ele e de ele sugerir a punchline, "Tudo bem, vamos comê-la, mas se depois te sentires mal com isso, cavamos uma campa e podes vomitar nela".

Lembro-me de descobrir em 1969, quando escrevíamos todos os dias no apartamento onde eu e a Connie Booth vivíamos, que ele tinha descoberto o jogo de imprimir palavras obscenas em quadradinhos de papel bonitos e depois, sorrateiramente, os colocar em locais estratégicos por todo o apartamento, o que me obrigava a mim e à Connie a fazer buscas frenéticas por papéis sempre que recebíamos visitas.

Lembro-me dele nas festas da BBC a rastejar pelo chão, a roçar-se com carinho nas pernas de patrões de fato cinzento e a morder com delicadeza as pernas femininas mais apetecíveis. A Sra. Eric Morecamble também se lembra disso.

Lembro-me de quando ele foi convidado para dar um discurso no Oxford Union e de entrar no auditório vestido de cenoura: um disfarce completo e cor-de-laranja com uma mola verde a fazer de chapéu, e depois, quando chegou a sua vez de falar, recusou-se a fazê-lo. Ficou ali especado, literalmente sem palavras, durante 20 minutos, enquanto sorria como um beato... essa foi a única vez na História em que um homem calado conseguiu provocar um motim.

Lembro-me de o Graham ter recebido um prémio de TV do jornal Sun das mãos do Reggir Maulding, quem mais!, e de pegar no troféu, cair ao chão e rastejar até à sua mesa enquanto gritava alto, o mais alto que conseguia. E se se lembram bem do Gray, ele conseguia gritar mesmo muito alto.

É magnífico, não é? Sabem, acho que o problema do choque não é que deixe algumas pessoas zangadas; acho que dá uma alegria momentânea aos outros por nos libertar à medida que nos apercebemos que, naquele instante, as regras de conduta social que nos limitam a vida não são assim tão importantes.

Bem, o Gray já não nos pode fazer isso. Já não está cá. É um ex-Chapman. Tudo o que temos dele agora é a nossa memória, mas vai demorar algum tempo até que desapareça."

- Elogio feito durante o Memorial ao seu colega dos Monty Python em 1989