Murilo Mendes

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Murilo Mendes (13 de maio de 1901 - 13 de agosto de 1975) foi um poeta, prosador e crítico de artes plásticas brasileiro, expoente do surrealismo na literatura brasileira.



  • "A poesia não pode nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão cotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito."
Aforismo 198. O Discípulo de Emaús (1945). Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 834.
  • "A filha da tua filha verá o cometa de Halley
Que viu a mãe da tua mãe
A filha da tua filha verá o cometa de Halley
Que eu vi, desde então me dá
Esta nostalgia do céu
Este peso de viver
Esta saudade do amor."
A Luz e a Vida. Os Quatro Elementos (1935). Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 279.
  • "Não é do homem que recebes a glória.
O Verbo te criou desde o princípio
Para transmitires palavras de vida
E para que O mostrasses a outros homens.
Em poucos anos percorreste os séculos
Que medeiam entre o Gênese e o Apocalipse.
O germe da poesia, essencial ao teu ser,
Se prolongará através das gerações.
Eras sábio, vidente, harmonioso e forte:
[...]."
Ismael Nery. Tempo e Eternidade (1935). Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, pp. 258-259.
  • "Chegam nus, chegam famintos
À grade dos nossos olhos.
Expulsos da tempestade de fogo
Vêm de qualquer parte do mundo,
Ancoram na nossa inércia.
Precisam de olhos novos, de outras mãos,
Precisam de arado e sapatos.
De lanternas e bandas de música,
Da visão do licorne
E da comunidade com Jesus.
Os pobres nus e famintos
Nós os fizemos assim."
Os Pobres. Poesia e Liberdade (1947). Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 429.
  • "A Términe Imerese eu vim,
De Términe Imerese eu vou.
Pesquiso a forma no caos,
Pesquiso o núcleo do som.
Ó pedra siciliana,
Enxofre, mar de cobalto;
Sondei a força concreta
Dos elementos, do deus.
Mas quem, o sol desvendando,
A terra me comunica?
Sem o filtro da morte quem
Me faz absorver o azul?
A Términe Imerese eu vim,
De Términe Imerese eu vou.
Transformei-me à minha imagem,
E o mesmo oráculo sou."
Canção de Términe Imerese. Siciliana (1959). Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 568.
  • "Amò prima di tutto la libertà:
la donna
il dialogo
la musica
le galassie
la pietra ovale
il teatro fuori del teatro.
Il suo cervello fu rivoluzionario
la sua fisiologia conservatrice.
Cercò sempre di abbinare
ragione e fantasia.
Fece la guerriglia contro se stesso
capí l'irrealtà della realtà
Crocifisse il Cristo
e liberò Barabba."
Epitaffio. Ipotesi (1977). Milano: Ugo Guanda Editore S.r.l., 1997, p. 7.
  • "Murilo Mendes, cada vez
que de carro cruzava um rio,
com a mão longa, episcopal,
e com certo sorriso ambíguo,
reverente, tirava o chapéu
e entredizia na voz surda:
Guadalupe (ou que rio fosse),
o Paraibuna te saluda.
Nunca perguntei onde a linha
entre o de sério e de ironia
do ritual: eu ria amarelo,
como se pode rir na missa.
Explicação daquele rito,
vinte anos depois, aqui tento:
nos rios, cortejava o Rio,
o que, sem lembrar, temos dentro."
Murilo Mendes e os Rios. NETO, João Cabral de Melo. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2020, p. 634.